Painel no 38º CBP abordou as causas e as consequências do estresse tóxico na população pediátrica

O tema preocupa. Para especialistas, o ativismo já é considerado caso de saúde pública. As crianças estão cada vez mais sobrecarregadas de atividades diárias. Agendas cheias de compromissos estão gerando pequenos estressados, comprometendo o desenvolvimento e causando alterações orgânicas.

O desequilíbrio familiar, a ausência dos pais, a superexposição aos tablets e games, o contato com jogos violentos, e demais situações de abuso e negligência. Todos esses ingredientes ajudam a desencadear o estresse tóxico na infância e na adolescência, pois elevam o cortisol, reduzem a neurogênese e alteram as sinapses, modificando a arquitetura cerebral.

O papel do pediatra é alertar e orientar sobre o assunto e conscientizá-los dos danos a curto e longo prazo. "Os pais estão cada vez mais preocupados com a formação dos filhos, preparando-os para o futuro com relação ao mundo do trabalho e ignoram os prejuízos aos quais estão expondo seus filhos", afirma a pediatra Liubiana Arantes, presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento.

Ela coordenou o debate no painel "Efeitos precoces e tardios no estresse tóxico na infância", apresentado no 38º Congresso Brasileiro de Pediatria. Para ela, é consenso entre os médicos que a criança precisa de ócio criativo para se desenvolver e que os pais devem dispensar atenção, presença e ensiná-las com afeto, nunca com violência. Na avaliação da especialista, aleitamento materno, nutrição e estímulos são fundamentais para a formação de adultos saudáveis.

"A presença dos pais durante a infância é insubstituível, mas atualmente, existe até personnal kids (profissionais contratados que levam as crianças para o cinema, futebol, shopping etc.). Claro que todos nós trabalhamos, temos compromissos, contudo é imprescindível que tenhamos tempo para estar com nossos filhos. Não é preciso terceirizar a educação e o carinho", pontua dra Liubiana.

Segundo a pediatra, investir na infância é preparar uma sociedade mais saudável. Esse esforço é da família, da escola, da sociedade, de todos. Dados do Núcleo Ciência pela Infância apontam que o desenvolvimento saudável da infância é a base da prosperidade econômica e da construção de uma sociedade mais forte e justa. Estudos demonstram que as primeiras experiências da vida de uma criança são incorporadas por ela, e perpetuam-se, afetando a aprendizagem, o comportamento e a saúde.

Para a pediatra cearense, Keitjane Nascimento, participante do 38º do Congresso, é comum queixas por parte dos pais sobre a agressividade dos filhos, mas quando se começa a conviver com a família percebe-se a ausência dos pais na rotina das crianças. "Hoje é difícil até os pais estarem presentes nas consultas médica. Sempre estão muito ocupados. Muitas vezes as crianças vão com as avós e/ou babás. O investimento na infância é algo intangível e se perpetua na sociedade de forma muito positiva", ressalta.