PATERNIDADE é um “tema” para PEDIATRAS?

Marcus Renato de Carvalho* Há alguns anos recebi relato que uma colega se recusou a atender no ambulatório um lactente, porque a mãe não estava presente e o pai não saberia responder sobre alimentação, vacinas, desenvolvimento… Felizmente, uma atitude que raramente presenciamos, porque é crescente a participação dos homens no cotidiano dos seus filho(a)s e …

Marcus Renato de Carvalho*

Há alguns anos recebi relato que uma colega se recusou a atender no ambulatório um lactente, porque a mãe não estava presente e o pai não saberia responder sobre alimentação, vacinas, desenvolvimento… Felizmente, uma atitude que raramente presenciamos, porque é crescente a participação dos homens no cotidiano dos seus filho(a)s e os Pediatras já reconhecem o valor da presença do pai.

Inúmeros estudos demonstram a importância do pai e da paternagem no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Quando o pai está ausente, mais chance de gravidez na adolescência, uso de drogas, abandono da escola e envolvimento em situações de violência.

O Pediatra tem uma autoridade sobre as famílias e precisamos usar esta relação de confiança na convocação dos homens às consultas, como acompanhantes nas internações, no pré-natal, no momento do parto/nascimento.

Muitas vezes nas salas de espera dos ambulatórios os homens são esquecidos, não sabem que podem e devem entrar e participar das consultas. Pesquisas científicas têm demonstrado que os homens que estão em contato próximo com seus filhos apresentam níveis mais elevados de prolactina e ocitocina (hormônios do amor e do prazer) e o nível de testosterona (ligado ao aumento da libido e da agressividade) diminuído.

Recentemente, atendi uma mãe e sua bebê e na anamnese descobri que ela estava separada do pai da lactente. Solicitei que na próxima consulta gostaria de conhecê-lo e que, apesar do relacionamento deles ainda em conflito, a filha precisava da presença e participação do pai. Infelizmente, minha proposta não foi aceita e a consulta de retorno não aconteceu. Mas, a consciência do dever cumprido me recompensou – conheço todos os pais de crianças e adolescentes que acompanho.

Não fomos capacitados para pensar a Paternidade como uma questão imprescindível para a saúde infantil. Com alegria constato que a Cidade do Rio de Janeiro incorporou a participação do homem como uma política pública através de iniciativas como a Unidade de Saúde Parceira do Pai* – veja os 10 passos no Box abaixo. Participei do “I Seminário Nacional sobre Paternidade e Cuidado na Rede SUS”, coordenado pela Área Técnica de Saúde do Homem do Ministério da Saúde e sai mais motivado a continuar defendendo a participação do pai nos serviços de saúde.  No mês (agosto) de Valorização da Paternidade, coordenado por uma Pediatra – dra. Viviane Castelo Branco -, tivemos oportunidade de refletir sobre vários temas: “Por que envolver os homens nas ações de cuidado?”; “Paternidade homoafetiva”; “Amamentação & a participação do Pai”; “O pré-natal do homem/parceiro”… Muitos temas “novos” para incorporarmos às nossas práticas e estudos.

O Pediatra pode ser um promotor do cuidado paterno. Vamos chamar os homens para a participação no cuidado dos filhos? Vamos convidar os pais a trazerem seus filhos às consultas? Vamos estudar estas questões de gênero para que possamos possibilitar com mais (a)efetividade o crescimento e desenvolvimento integral de nossas crianças e adolescentes?

* Os 10 passos das unidades de saúde “Amigas do Pai”:

1.      Incluir os homens/pais nas atividades de contracepção, TIG, pré-natal, ultrassonografia, atenção a crianças e adolescentes  (consultas, exames e atividades de grupo);
2.      Disponibilizar cadeiras suficientes no pré-natal e Pediatria para acomodar os pais que queiram participar das consultas;
3.      Ter informações disponíveis sobre os direitos dos pais de acompanharem o parto (legislação e cartaz) e licença-paternidade;
4.      Incluir temas relacionados às masculinidades /paternidade nas atividades de grupo da contracepção, pré-natal, aleitamento,  pediatria e clínica de adolescentes;
5.      Estabelecer horários alternativos de consultas, atividades de grupo e visitas às enfermarias de forma a facilitar a presença dos que trabalham;
6.      Decorar a unidade de forma que os homens se sintam mais a vontade (fotos, cartazes, informações, revistas);
7.      Desenvolver atividades especificamente voltadas para os pais, que valorizem a integração intergeracional e o vínculo pais e filhos, com metodologias que sejam atraentes para os homens;
8.      Estimular a participação do pai no parto;
9.      Facilitar a presença dos pais nas enfermarias de Pediatria, inclusive como acompanhantes;
10.    Capacitar a equipe de saúde em temas relacionados às masculinidades, cuidado paterno e metodologias para trabalho com homens.

Baixe todo o documento da “Iniciativa Unidade de Saúde Parceira do Pai” emhttp://www.aleitamento.com/upload%5Carquivos%5Carquivo1_2088.pdf

*Marcus Renato de Carvalho, docente de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFRJ, pai da Clara e da Sophie.