Pediatras abordam a importância da autoestima na infância e adolescência

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por meio do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento e do Grupo de Trabalho de Saúde Mental, publicou nesta semana o documento científico “Autoestima na infância e na adolescência”. O texto busca explicar o que é autoestima, como ela se relaciona com a saúde mental, física, como ocorre seu desenvolvimento na infância e na adolescência e como é a sua promoção.

Autoestima é o sentimento que o indivíduo tem sobre si mesmo, podendo ser positivo, se o indivíduo se sente satisfeito com quem é, com seus talentos, potenciais e realizações; ou negativo, ou seja, quando acompanhado de culpa e vergonha. A autoestima também pode ser realista ou inflada.

“Como na maioria dos aspectos da vida mental, o desenvolvimento da autoestima ocorre pelo encontro de tendências inatas com as experiências de vida, principalmente as experiências interpessoais. A mente se constrói pela relação do programa maturativo do indivíduo, determinado pela genética, com o entorno humano. Em termos objetivos, os circuitos cerebrais são organizados pelo desenvolvimento do programa genético em interação com as experiências”, discorre o texto.

SAÚDE MENTAL E FÍSICA – Os aspectos constitucionais como o temperamento influenciam a autoestima. Sendo assim, as crianças e adolescentes que são mais tímidas/introvertidas apresentam maior sensibilidade a críticasansiedade em situações sociais e maior autoconsciência crítica. Em contrapartida, os indivíduos que são extrovertidos tendem a ter uma autoestima mais elevada.

O texto cita ainda como crianças e adolescentes com transtornos de neurodesenvolvimento ou transtornos psiquiátricos lidam com a autoestima.  Além de explicar como funciona o sentimento para crianças que adoecem e/ou possuem uma doença crônica; e aquelas que sofrem algum tipo de abuso ou violência.

DESENVOLVIMENTO – De acordo com o documento, existem diversos estudos acerca do papel das experiências precoces da vida sobre o desenvolvimento infantil. A construção da autoestima tem um importante papel nesse desenvolvimento e no impacto da funcionalidade desse indivíduo na fase adulta. Acontecimentos adversos tóxicos vividos da primeira à terceira infância, podem afetar o desenvolvimento geral e neuropsicológico das crianças.

“O vínculo da criança com seus cuidadores, o afeto dedicado a ela, a qualidade de estímulos ambientais, o nível socioeconômico da família, suas condições básicas de saúde, higiene e nutrição são essenciais nestas fases para um desenvolvimento adequado. Perturbações neste período podem ter efeitos estruturais na formação de circuitos cerebrais, repercutindo negativamente na autoestima e funcionalidade global deste indivíduo”, explica o texto.  Os especialistas também enfatizam que é papel do pediatra rastrear e identificar se as crianças estão tendo seus direitos garantidos por lei.

PROMOÇÃO – É fundamental que pais, cuidadores e educadores cuidem da própria autoestima para beneficiarem a construção da boa autoestima da criança - que deve ser estimulada pelas relações que se estabelece com seus pares. Conforme pontuam os especialistas, deve-se estimular que a criança desenvolva a adequada percepção do valor de si mesmo, para que possa lidar com situação em que não fique tão dependente da opinião ou aprovação dos pais ou colegas.

“Incentive a criança a reconhecer sua própria importância, através do estímulo ao amor e respeito. Estimule a criança a gostar de sua autoimagem, do resultado que obtém nas atividades acadêmicas e esportivas. É importante que a criança, de acordo com cada faixa etária, desenvolva a habilidade de olhar para si mesma e entender que a cada ação corresponde um resultado. Por exemplo, a criança deve ser estimulada pelos responsáveis a gostar das suas características físicas, entender que há diferenças entre as pessoas, como a cor da pele, altura, o tipo de cabelo, dentre outros”, enfatizam os pediatras.

Outro ponto destacado pelo documento é que o elogio é fundamental para que as crianças entendam que estão bem do jeito que são, não para se sentirem melhores que os outros. Além disso, os pais devem afastar as crianças e a família de relacionamentos que não sejam construtivos. "Estimular afirmações positivas sobre si mesmo, valorizar as conquistas, cuidar da autoimagem. Ensinar à criança a importância de fazer seu próprio julgamento, importando menos com a opinião de terceiros. Construir a habilidade de responsabilizar-se pelos próprios atos e agir no sentido de obter melhores resultados”, finaliza o texto.

O Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento é composto pelos drs. Liubiana Arantes de Araújo (presidente); Lívio Francisco da Silva Chaves (secretário); Adriana Auzier Loureiro; Ana Márcia Guimarães Alves; Ana Maria Costa da Silva Lopes; João Coriolano Rego Barros; e Ricardo Halpern.

Já o Grupo de Trabalho de Saúde Mental é formado pelos drs. Roberto Santoro P. de Carvalho Almeida (coordenador); Adriana Rocha Brito; Ana Silva Mendonça Alves; ; Cecy Dunshee de Abranches; Daniele Wanderley; Gabriela Judith Crenzel; Rossano Cabral Lima; e Vera M. Ferrari Rego Barros.