Pediatras alertam para uso indiscriminado da internet

Os “riscos do mundo digital na infância e adolescência”foi um das mesas redondas mais aguardadas do 39º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP). Sem alarmismo, mas com um chamamento à importância de proteger jovens e adolescentes dos perigos que se escondem por detrás das telas, o dr. Marco Antonio Chaves Gama, presidente do Departamento Cietífico de Segurança da SBP,  destacou que está na hora de começar a esclarecer os pais sobre o que chamou de ‘puericultura digital’. “Ensinamos como tomar vacina, como alimentar, mas precisamos urgentemente de uma intervenção digital para proteger nossas crianças”.


Durante a palestra ‘Você sabe o que é: grooming, sexting, cuttin e cyberbulling’, o especialista pontuou as complicações futuras decorrentes da grande exposição dos jovens nas redes sociais. Segundo ele, imagens de sexo e nudez têm efeito viral, rapidamente se propagam e podem parar em sites de pornografia adulta. “Estas imagens permanecem anos na internet e podem ter repercussões futuras, seja eventualmente em uma entrevista de emprego ou mesmo atingindo seus filhos, quando tiverem”.  Segundo ele, o papel dos pais na fiscalização mais próxima é fundamental, pois o adolescente ainda não tem o discernimento suficiente. “Suas ações são decorrentes dos hormônios e fazem por diversão e transgressão”, disse.   

A dra. Evelyn Eisenstein, integrante do Grupo de Trabalho Criança, Adolescente e Natureza da SBP, alertou ainda para a nova doença denominada ‘Telite’ que é o uso prolongado e excessivo das telas de televisão ou digitais por crianças e adolescentes com alterações no desenvolvimento cerebral e mental. Segundo preconizam os especialistas até dois anos, deve haver ausência total de telas; de dois a cinco anos até 60 minutos com restrições e supervisão dos pais; dos seis aos dez anos, de uma a duas horas ao dia. A médica compartilhou dados de um estudo da University College, London Inst of Epidemiology and Health, de 2019, mostrando que o uso das redes sociais pode gerar transtornos de sono, assédio sexual online, baixa autoestima e baixa imagem corporal o que pode gerar sintomas depressivos.

A presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria do Rio Grande do Sul, dra. Cristina Targa Ferreira, reforçou a preocupação da classe médica com o uso indevido das redes sociais por crianças e adolescentes. Segundo ela, os sinais mais visíveis da consequência excessiva do uso indiscriminado de computadores, tablets e outros equipamentos pelas crianças são as noites mal dormidas, isto é, poucas horas de sono e um sono de péssima qualidade. "Trata-se de um comportamento que causa, de imediato, déficit de atenção e isolamento social, podendo, em muitos casos, provocar a depressão", refletiu. Além disso, dra. Cristina citou o aparecimento de doenças cardiovasculares, como hipertensão e obesidade, como reflexo da exposição indiscriminada. 

Já a pediatra especialista em adolescência, dra. Suzana Estefanon, disse que um levantamento coordenado pelo Comitê Gestor de Internet (CGI) indicou que, em 2018, em todo o Brasil, a média de usuários que utilizam a internet na faixa etária dos 9 aos 17 anos é de 84%. Suzana adiantou que, no Nordeste, este índice fica em 75% enquanto nos Estados do Sudeste e Sul é de 95%. “Mais do que nunca, é necessário fazer um alerta aos pais para que eles retomem seus vínculos afetivos, invistam no relacionamento cara a cara com seus filhos e imponham regras ao uso da internet", defendeu. 

Como conclusão da mesa redonda os médicos fazem um apelo aos pais para que cuidem de suas crianças e adolescentes, supervisionando as atividades em frente das telas, conversem com eles para conhecer suas demandas e incentivem atividades mais lúdicas. Aos colegas, sugerem: prescrevam mais natureza.