Pediatras avaliam impacto da resiliência sobre o comportamento infantil

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou, nesta quinta-feira (10), documento científico para discutir e melhorar a compreensão sobre como funções executivas (FEs) e a resiliência fazem parte do comportamento e desenvolvimento da criança. Em “Funções executivas e resiliência na primeira infância”, o Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP conceitua as chamadas FEs e a resiliência, apresenta seus efeitos neurobiológicos e discute o tema sob o prisma das populações de risco.

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Segundo o documento, as funções executivas são “um conjunto amplo de processos ou habilidades cognitivas que gerenciam e controlam nossos pensamentos, emoções e ações”. Os especialistas explicam que tais habilidades influenciam o comportamento para um planejamento, de forma que a criança desenvolva suas funcionalidades da forma adequada.

As FEs são divididas em três tipos: o autocontrole ou controle inibitório, a memória de trabalho e a flexibilidade cognitiva. O documento explica que outros estudiosos as dividem em dois componentes: o componente frio, que envolve as habilidades cognitivas; e o componente quente, onde se destaca a capacidade de regular emoções diretamente relacionadas com os aspectos afetivos e motivacionais.

Já a resiliência é apresentada como a capacidade de adaptação às situações adversas, como traumas ou perdas, sem a perda do equilíbrio emocional, conseguindo se defender e adaptar perante eventuais dificuldades. O documento da SBP destaca que, quando a criança tem as condições necessárias para desenvolver e regular suas habilidades de concentração, impulsividade, organização, uso adequado do pensamento e da criatividade, “cria-se uma resiliência necessária para o enfrentamento das adversidades, e ela provavelmente irá ter uma funcionalidade adaptativa melhor, refletindo, por exemplo, no seu desempenho escolar”.

O pleno desenvolvimento dessas habilidades na infância, reflete a entidade, colabora para a formação de um indivíduo mais preparado para conquistar sucesso, independência econômica, autonomia e prosperidade. “Para a sociedade, o reflexo é uma população mais educada, capacitada e saudável”, alerta o documento.

FATORES DE RISCO – O documento da SBP acrescenta uma abordagem social, avaliando o que acontece com crianças inseridas em um ambiente de pobreza, fome e estresse tóxico e sinalizando medidas protetivas que podem ser apropriadas em políticas públicas e no convívio familiar. “As crianças que possuem experiências precoces de familiares efetivas e fortalecedores em suas ações de superação, frente às adversidades intensas e duradouras, desenvolvem competências individuais que promovem alívio dos sintomas psicopatológicos. Já as crianças que viveram em ambiente adverso, tanto no íntimo da família, quanto na escassez de recursos externos, essenciais à vida, podem ter comprometimento no desenvolvimento adequado”, apontam os autores.

Em outro trecho, os autores qualificam o desemprego crescente, a desigualdade social, a presença de transtornos mentais parentais, o aumento do consumo de álcool e drogas pelos pais, e a maior exposição das crianças a genitores violentos, principalmente nesta época de isolamento social, como alguns dos fatores que podem aumentar a exposição das crianças aos fatores de risco para o estresse tóxico infantil.

“Em época de epidemias ou pandemias, os relatos de abuso doméstico e violência familiar aumentam ainda mais. Na pandemia de COVID-19, por exemplo, os Estados Unidos, China, Brasil e Austrália registraram aumento na violência contra mulheres e crianças; a França relatou aumento de 32% a 36% nas denúncias de abuso doméstico após a implementação de medidas de isolamento e quarentena e as vendas de álcool aumentaram mais de 36%”, diz a SBP.