O avanço dos casos de automutilação e também do suicídio entre os jovens brasileiros foi um dos destaques do terceiro dia do 38º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP), em Fortaleza. O objetivo foi discutir as principais características de identificação dos casos de ‘cutting’, ou automutilação, para que os pediatras possam intervir em tempo. A maior prevalência do transtorno ocorre entre pacientes na faixa etária de 13 a 18 anos, sendo duas vezes mais comum entre adolescentes do sexo feminino.
Durante a palestra, foram apresentados dados alarmantes sobre os crescentes casos de autoagressão e a grande quantidade de jovens que chegam ao suicídio, o que tem preocupado a comunidade científica no Brasil. O problema é que dificilmente esses jovens buscam ajuda, por isso, os pais devem ficar alertas a alguns sinais, como quadros de tristeza ou melancolia constantes.
Em sua apresentação, a presidente do Departamento Científico de Adolescentes, dra. Alda Elizabeth Azevedo, mostrou as características dos jovens com “cutting” e os fatores que os levam a desenvolver esses sinais. Segundo ela, jovens que apresentam cortes superficiais ou moderados, perfurações, mordidas ou beliscões e espancamentos com as mãos ou objetos podem fazer parte desse público. Raiva, desejo de morrer e a necessidade de correr riscos, são alguns dos motivos que levam os portadores da doença a cometer as autoagressões.
Segundo a dra. Alda, os praticantes do “cutting” se auto flagelam por sentirem sensação de bem-estar. “O objetivo é a descarga de tensão. Desviar a atenção de sentimentos ruins”, afirmou. Outros aspectos que caracterizam quem pratica o ato são: inquietação, criticidade, dificuldade no relacionamento interpessoal, vulnerabilidade, depressão, transtornos alimentares e desvio de conduta.
Geralmente, esses jovens se auto mutilam em locais que possam ficar isolados e utilizam objetos cortantes e perfurantes, normalmente encontrados nos materiais escolares. Isso facilita a prática de quem tem o transtorno. Pode acontecer de forma individual ou grupal (influenciados por pares). De acordo com pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), de 2015, 11% dos jovens dentro do perfil procuram, na internet, formas para cometer a autoagressão e 6%, pesquisaram sobre como cometer suicídio.
SUICÍDIO – Outro tema explorado foi o suicídio. Segundo os especialistas, dados do Ministério da Saúde mostram que esta já pode ser considerada a quarta principal causa de morte entre os jovens brasileiros. Dra. Alda relatou que a frequência de casos de suicídio está migrando da melhor idade para a juventude.
Ainda em sua fala, a pediatra definiu suicídio como sendo o desejo consciente de morrer e relatou que, apesar de ser premeditado, trata-se de uma consequência que pode ser prevenida. “Dá tempo de se intervir, se tivermos a sensibilidade para detectarmos os indicadores”, disse. Assim como no “cutting”, a depressão, a baixa relação interpessoal, elevado grau de exigência da sociedade e os problemas familiares são sinais que podem levar alguém ao suicídio. Por isso, aponta a médica, “devemos nos preocupar não só com a saúde física, mas também com a saúde mental dos nossos jovens”.
PED CAST SBP | "Neuroblastoma"
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