A séria crise na assistência à saúde enfrentada pela Venezuela levou as lideranças dos países participantes do Fórum das Sociedades de Pediatria do Cone Sul (FOSPECS) a divulgarem uma moção de apoio às crianças e adolescentes imigrantes e refugiados na América Latina. O tema foi abordado pelo presidente da Sociedade Venezuelana de Puericultura e Pediatria daquele país, dr. Huníades Urbina-Medina, durante a reunião das entidades médicas, nos dias 22 e 23 de novembro, no Rio de Janeiro (RJ). O documento, assinado pelos presidentes das Sociedades de Pediatria do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia, e pelo presidente do FOSPECS, pede aos governos nacionais, provinciais e locais desses países, incluindo a Venezuela, providências para as melhorias no atendimento nos serviços de saúde; a manutenção e aumento dos estoques de medicamentos, exames laboratoriais e outros insumos.
LEIA AQUI A ÍNTEGRA DA MOÇÃO DE APOIO.
O texto reforça, ainda, a necessidade de aumento na oferta de leitos de internação e de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) às gestantes, crianças e adolescentes; reforço na cobertura vacinal contra as doenças imunopreveníveis; a implementação de estratégias visando garantir os direitos das crianças, adolescentes e suas famílias em relação à educação, moradia, água, saneamento, documentação e demais direitos básicos; e o treinamento para acolhimento e identificação precoce de problemas físicos, emocionais e sociais pelos médicos e outros profissionais de saúde para este grupo vulnerável.
“Os participantes do FOSPECS entendem que o engajamento das autoridades em oferecer respostas positivas aos itens dessa pauta é fundamental para que a saúde e o bem-estar de milhares de crianças e adolescentes dos seus países sejam preservados”, diz trecho do documento.
IMBRÓGLIO – Nos últimos oito anos, o Brasil recebeu mais de 200 mil solicitações de reconhecimento da condição de refugiado. Somente em 2018, foram mais de 80 mil pessoas solicitando o reconhecimento, dos quais mais de 61 mil são venezuelanos. Cerca de 80% dessas solicitações ocorreram no Estado de Roraima.
“As crianças e adolescentes acabam sendo as mais afetadas nessas situações de vulnerabilidade. Há risco para a saúde delas durante todo percurso do seu país de origem até o seu destino porque elas podem ficar dias caminhando. Além disso, ao chegar em um país com costumes e até idioma completamente diferente do seu, ela sofre um choque cultura enorme e até pode ser vítima de preconceitos”, explica a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Luciana Silva.
Outro ponto levantado pelos participantes do FOSPECS foi a perda de identidade por parte de crianças e adolescentes refugiados, além do afastamento de suas escolas, o que faz com que haja uma imensa perda em sua educação. Há ainda a questão da perda de histórico médico desse público, dificultando o trabalho dos pediatras no atendimento a essas crianças e adolescentes.
“Esse debate é importante, pois as questões políticas enfrentadas pela Venezuela e a Bolívia interferem na qualidade da assistência à saúde das crianças e adolescentes desses países, bem como dos países vizinhos, como o Brasil, por exemplo”, disse o representante da SBP no FOSPECS, dr. Ricardo do Rego Barros.
TELEMEDICINA – Outra discussão, durante a reunião, foi sobre a telemedicina e o impacto da tecnologia no cotidiano do pediatra. Cada país apresentou como tem se comportado em relação ao tema e o que tem sido feito para preparar os pediatras para lidar com esse universo cada vez mais tecnológico.
A presidente da SBP apresentou a ação promovida pela entidade para os pediatras enviarem sugestões ao Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a nova regulamentação da prática. “A SBP considera extremamente pertinente sua participação ativa na formulação de políticas públicas de saúde e no debate sobre fluxos assistenciais, pois sua implementação pode gerar mudanças no cotidiano de postos de saúde, ambulatórios, hospitais e, especialmente, no contato entre médicos e pacientes”, enfatizou dra. Luciana.
OUTROS TEMAS – Durante o encontro, também foram debatidos o sistema de saúde pública, a gravidez na adolescência, o trabalho infantil, a precarização na assistência à saúde das crianças e adolescentes, as taxas de cobertura vacinal cada vez mais baixas e a volta de doenças erradicadas como o sarampo.
Foram discutidos ainda temas como adoção, vício em drogas, a pediatria social e o impacto das desigualdades sociais no desenvolvimento das crianças e adolescentes, as dietas veganas e suas consequências, além do investimento das entidades em assessorias de comunicação para que,assim, informações confiáveis e qualificadas sejam divulgadas à sociedade civil.
Ao final da reunião, a presidente da SBP reforçou a importância de um trabalho conjunto entre as Sociedades de Pediatria do Cone Sul para melhor atender o público infantojuvenil. “Neste encontro, percebemos como os nossos países, apesar de serem diferentes, compartilham de problemas parecidos e que devemos estarmos engajados para um futuro melhor, mais justo e igualitário para as nossas crianças. A desigualdade social, econômica e, consequentemente, de acesso a direitos básicos faz com que nossas crianças e adolescentes passem por situações críticas e perigosas. Devemos lutar, cada vez mais, para que esses direitos sejam garantidos a eles, pois são o futuro de nossa sociedade”, concluiu.
PARTICIPANTES – A reunião foi conduzida pela Comissão Executiva do FOSPECS, dr. Alfredo Cerisola (presidente); Hernan Sepulveda (secretário-geral); e Mónica Pujadas (tesoureira). Pela SBP, participaram do encontro os drs. Luciana Silva (presidente); Sidnei Ferreira (secretário-geral); Ricardo do Rego Barros (representante da SBP no FOSPECS); e Sérgio Cabral (diretor de Relações Internacionais).
Representando as demais Sociedades de Pediatria do Cone Sul estiveram Omar Tabacco e Rodolfo Moreno (presidente e 1º vice-presidente da Sociedade Argentina de Pediatria, respectivamente); Veroska Peredo (representante da Bolívia); Jorge Carrasco (tesoureiro da Sociedade Chilena de Pediatria); Mónica Alonso e Cláudia Flecha (presidente e secretária-geral da Sociedade Paraguaia de Pediatria, respectivamente); e Alicia Fernandez (presidente da Sociedade Uruguaiana de Pediatria).
Como convidados, estiveram os drs. Huníades Medina (presidente da Sociedade Venezuelana de Puericultura e Pediatria); e Francisca Maria Oliveira Andrade (especialista em saúde do Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF);
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