Pediatras explicam o impacto do uso excessivo de telas por crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista

Com o cenário da mídia digital cada vez mais complexo e presente na vida das crianças e adolescentes, a discussão sobre os efeitos adversos do tempo excessivo de tela na saúde se torna ainda mais urgente. Ciente desta questão, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – por meio de seu Departamento Científico de Neurologia – lança a nota especial “Transtorno do Espectro Autista e Telas”. Na publicação, os pediatras falam sobre os aspectos cognitivos e comportamentais dessa exposição ao longo prazo e sua relação com o desenvolvimento neuropsicomotor em pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

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Os especialistas destacam que, apesar do componente genético ser responsável por 50% a 80% de risco no TEA, os aspectos perinatais e demográficos também têm sido associados ao risco, assim como os aspectos ambientais. Nesse sentido, considerando que o isolamento social da pandemia de 2020 aumentou o tempo de telas em todo o mundo, tem se debatido a influência que o uso massivo da internet pode ter na estrutura e funcionamento do cérebro, tanto em pessoas neurotípicas, quanto naquelas com TEA.

Eles ressaltam, no entanto, que embora estudos demonstrem que o excesso de telas impacta negativamente no desenvolvimento da linguagem, nenhum estudo correlacionou definitivamente o uso precoce com o desenvolvimento do TEA. O alerta diz mais respeito à probabilidade de que crianças com problemas emergentes de comunicação social prefiram brincadeiras baseadas em objetos, que incluem TV e dispositivos digitais.

Além disso, o uso intensivo das telas impacta diretamente nas interações entre pais e filhos  e as interações sociais na vida real, gerando pouca oportunidade de aprendizagem para bebês e crianças pequenas. Outro aspecto pontuado pelos pediatras é que as características cognitivas e comportamentais únicas dos indivíduos com TEA, combinadas com o alto grau de conteúdo adaptado com os algoritmos de recomendação das redes sociais e plataformas de conteúdo, podem potencializar hábitos problemáticos de uso da mídia.

“As características clínicas dos indivíduos com TAE que contribuem para este uso problemático incluem déficits de comunicação social, como a tendência a brincadeiras solitárias e interesses restritos; diferenças sensoriais; fragilidade funcional executiva; e fatores contextuais, como estresse dos pais”, ressaltam.

Os pediatras enfatizam ainda a necessidade dos pais e responsáveis serem socialmente engajados ao desenvolvimento psicomotor de seus filhos, a fim de estimular resultados positivos no desenvolvimento infantil. Como questão de saúde pública, eles também apontam a urgência de melhor compreensão da associação dessas experiências modificáveis relacionadas com o desenvolvimento neuropsicomotor com os resultados em pacientes com TEA. 

“Estudos prospectivos sobre tempo de exibição, conteúdo, fatores de risco e seus efeitos de curto e longo prazo contribuíram significativamente para a base de evidências já disponível, de modo que os esforços de saúde pública possam ser direcionados para melhorar a saúde mental das crianças de uma forma geral e de pacientes com TEA em especial”, explicam.