“O planeta está aquecendo!”. Esse é o título da carta aberta divulgada nesta semana pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), em função da tragédia ambiental ocorrida no Rio Grande do Sul. O documento traz um alerta a respeito dos efeitos devastadores das mudanças climáticas, com foco na saúde de crianças e adolescentes. Segundo os pediatras, o consenso científico internacional já aponta que a emissão desenfreada de gases na atmosfera e outras formas de degradação do meio ambiente (como o desmatamento e a poluição das águas) são responsáveis pelo aquecimento do planeta e, consequentemente, por produzir e intensificar as catástrofes.
“Longos períodos de seca intercalados com fortes chuvas e inundações são fenômenos que vieram para ficar. Na Região Sul, o atual cenário de destruição foi o terceiro evento extremo em menos de um ano, o anterior ocorreu em setembro de 2023, porém mais localizado”, destaca o texto.
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SAÚDE INFANTOJUVENIL – De acordo com a SBP, crianças e adolescentes são mais vulneráveis às mudanças do clima, principalmente aquelas que vivem em condição de pobreza, seja em habitações precárias ou em áreas de risco para inundações e deslizamentos de encostas. “As menores de cinco anos representam a maioria das vítimas de doenças decorrentes das catástrofes relacionadas ao meio ambiente. Elas são mais suscetíveis à exposição a agentes químicos nocivos, presentes tanto na fumaça dos incêndios quanto nas águas contaminadas”, descreve a publicação.
Além disso, os pediatras chamam a atenção para a possibilidade do aumento de casos de doenças comuns após grandes inundações, entre elas, gastroenterites, leptospirose e dengue – transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, vetor que se prolifera em locais com água parada.
VACINAS - Diante desse contexto, a SBP em parceria com as Sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm), de Infectologia (SBI), de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC), a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (ABRAMEDE) e a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) elaborou uma Nota Técnica a respeito da prevenção de doenças por meio da vacinação. De acordo com as entidades, devido à exposição à água de enchentes, a população afetada pela catástrofe climática no Rio Grande do Sul e as equipes de socorro estão mais suscetíveis a infecções.
Crianças, adolescentes, adultos, idosos, gestantes e pacientes especiais (comorbidades e imunossuprimidos) que tenham o seu registro de vacinação devem completar as doses não aplicadas, seguindo os calendários de imunização específicos do Ministério da Saúde. Acesse: https://www.gov.br/saude/pt-br/vacinacao/calendario. Já aqueles que não têm disponível os seus registros de vacinação devem ser considerados não vacinados para as imunizações recomendadas neste documento.
As vacinas especialmente indicadas em situações de enchente são a covid-19, influenza (2024), tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), hepatite A, tétano e raiva, esta última apenas em caso de acidentes com animais. Além desta lista, para as equipes de saúde também são recomendadas as vacinas hepatite B, febre tifóide e raiva – profilaxia pré-exposição e pós-exposição de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde.
“Além de poupar a saúde da comunidade, reduzindo a probabilidade de surtos de doenças, os esforços voltados à imunização, nesse momento, são relevantes para preservar os recursos humanos, garantindo que as equipes em campo atuem da forma mais segura possível”, ressalta o presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP e vice-presidente da SBIm, dr. Renato Kfouri.
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EM DEFESA DO FUTURO – Atenta aos desafios climáticos, o presidente do Departamento Científico de Toxicologia e Saúde Ambiental da SBP, dr. Carlos Augusto Mello da Silva, faz ainda uma reflexão sobre a relevância do engajamento dos pediatras, que deve ser cada vez maior, na luta pela implementação de medidas efetivas para prevenir tragédias climáticas, uma vez que episódios semelhantes ou análogos, mesmo que em outras proporções, têm ocorrido por todo o País.
“Medidas como a preservação e recuperação de matas ciliares e margens de rios, realizar obras de engenharia para contenção de encostas e o replantio de árvores nativas são iniciativas, dos três níveis de governo, que reduzem em muito danos futuros em eventos semelhantes. O pediatra, em cada comunidade, em nome da proteção à saúde e ao futuro de nossas crianças, tem o dever ético de dedicar uma parte do seu tempo para, junto com outros cidadãos, demandar estas e outras melhorias”, finaliza.
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