Em Passo Fundo (RS), um andador levou um bebê à morte em 2009. Em conseqüência, acionado pelo pediatra Rui Locatelli Wolf, o Ministério Público conseguiu interditar a utilização em escolas, creches e hospitais. Recentemente, foi a dra. Cláudia Lima, de Vitória (ES), quem denunciou à Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) o traumatismo craniano grave sofrido por uma criança, em conseqüência do aparelho. A entidade defende que a venda de andadores seja proibida, as famílias devidamente esclarecidas e está convidando os pediatras para que se mobilizem nesse sentido. Leia a carta, a seguir, e conheça também os depoimentos dos drs. Rui Wolf e Cláudia Lima.
Andador: perigoso e desnecessário!
Prezados colegas,
A Sociedade Brasileira de Pediatria volta a chamar a atenção de todos para que continuem engajados
numa das ações pela proteção da criança brasileira: o banimento completo dos andadores do nosso meio!
O motivo deste novo contato é reavivar a mobilização dos pediatras, já que a Comissão de Seguridade
Social e Família da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional está prestes a apreciar o Projeto de Lei
4926/2013, que, em sintonia com a posição oficial da Sociedade Brasileira de Pediatria, determina que
fique expressamente proibida a fabricação, venda e utilização de andadores infantis em todo o território
nacional.
Todo pediatra sabe perfeitamente que, segundo as melhores evidências científicas, o andador é um
equipamento que só traz prejuízos, seja pela sua absoluta inutilidade no processo de aquisição da marcha,
mas sobretudo pelos grandes riscos à segurança (que incluem não só os riscos de traumatismos cranianos
‒ potencialmente letais ‒, mas também de queimaduras, intoxicações e até afogamentos).
Em vista dos riscos consideráveis e da total falta de evidências de qualquer benefício associados aos
andadores, muitas entidades voltadas para a atenção à saúde da criança têm recomendado a proibição da
sua produção e venda. Informações mais detalhadas podem ser obtidas nos relatórios da Academia
Americana de Pediatria [clique aqui] e na declaração conjunta da European Child Safety Alliance e da
ANEC [clique aqui]. Entretanto, até o momento, o Canadá foi o único país a estabelecer a proibição da
venda e utilização de andadores, com multa prevista para os infratores.
A Sociedade Brasileira de Pediatria, por meio do seu Departamento Científico de Seg
Recomendações de ação aos pediatras:
1) Entre em contato com os deputados federais aos quais você tenha acesso, enfatizando a posição
da SBP e dos pediatras em defesa da segurança das crianças brasileiras.
2) Inclua na orientação antecipatória das consultas de puericultura, a partir do período neonatal, a
contraindicação enfática ao uso de andadores.
3) Recomende que todas as famílias leiam a posição da SBP, disponível no site “Pediatria para
famílias” [clique aqui].
4) Para as famílias que começarem a consultar com bebês que você não acompanhou desde o
nascimento, pergunte se possuem andador e, em caso positivo, recomende a sua destruição.
5) Certifique-se de que não há andadores nos seus locais de trabalho, como hospitais e creches.
6) Envolva-se na divulgação em todos os meios de comunicação dos riscos do uso de andadores e
por que devem ser banidos.
7) Notifique à SBP os casos de traumatismos causados por quedas de andador ou de alguma forma
relacionados com o seu uso [clique aqui].
A morte de um bebê em conseqüência do andador ocorreu em 2009. O Ministério Público de Passo Fundo foi então acionado e inquérito civil instaurado, a partir da reclamação do pediatra Rui Wolf, que atendeu a criança com traumatismo craniano decorrente de queda. Todos os hospitais foram oficiados, para que não permitam a utilização do aparelho. Também foram expedidas recomendações ao Conselho Municipal de Educação e às Secretarias Municipais de Educação e de Cidadania e Assistência Social, repassadas depois a escolas públicas, privadas e outros estabelecimentos. Leia, a seguir.
SBP Notícias: O que ocorreu exatamente com a criança?
Dr. Rui Locatelli Wolf : O bebê tinha 10 meses, estava no andador. No instante em que o pai
foi buscar uma mamadeira, desceu escada de quatro degraus e bateu a cabeça. Não teve hematoma, sequer um galo apareceu na hora. Os pais pensaram que estava tudo bem, foram a um aniversário. Durante a festa, a criança dormiu e não acordou mais, estava em coma. Pesando 10 KG, teve um edema cerebral severo com um hematoma de 400 ml e morte cerebral dois ou três dias depois.
A partir daí, os sr. acionou o Ministério Público. Como foi e qual a situação atual?
Foi instaurado inquérito, apresentei as razões da queixa e os documentos. Chegaram então à conclusão de que é realmente perigoso. O Ministério Público conseguiu a não utilização nas escolas, creches e hospitais. O andador foi proibido em Passo Fundo. Para conseguir que não seja comercializado é preciso uma medida federal.
A SBP defende a proibição da comercialização, com a mobilização dos pediatras e da comunidade em geral…
O andador é uma coisa mais ou menos cultural. Creio que, como vários mitos, as pessoas devem se conscientizar de que não traz benefício nenhum. O mais grave é o risco de acidente, pois a criança cai e não tem como levar as mãos à frente para se defender, a cabeça acaba sendo um “pára-choque”, o andador é pior do que a motocicleta. Além disso, a criança também pode aprender a caminhar errado e ter outros malefícios, em relação à postura, por exemplo, que vão aparecer quando estiver maior. Acho excelente que a SBP faça esta campanha, para conscientizar a população e acabar com a comercialização do aparelho, cuja venda é um absurdo! Os pediatras precisam conversar sobre o assunto com os pais. Em Passo Fundo, as pessoas já estão mais informadas sobre o perigo. Vamos conseguir mudar isso!
“Sou pediatra em Vitória/ES e gostaria de sugerir uma campanha para a proibirmos a fabricação e venda de andadores. Vejo que é crescente o número de crianças vítimas de acidentes com o uso do aparelho. Recentemente, no meu prédio, um bebê de um ano foi vítima de Traumatismo Cranioencefálico (TCE) grave com hematoma e ficou em coma, após queda do andador. Temos obrigação de alertar os pais sobre os riscos do uso desse objeto, que não traz nenhum benefício aos nossos pacientes”. A mensagem foi enviada à SBP pela dra. Cláudia Lima Campodônico Fonseca no final de 2012. Leia mais, a seguir.
SBP Notícias – O que ocorreu com essa criança exatamente?
Dra. Cláudia: A criança mora no meu prédio, mas não ocorreu lá. Estava no andador e caiu de uma altura de dois metros da sacada de um edifício. Teve um traumatismo craniano grave, hematoma, que foi drenado cirurgicamente, ficou em coma alguns dias. Quase morreu, mas não saiu com nenhuma sequela física, está com cerca de um ano e meio de idade e passa bem. Foi um milagre!
A SBP dará início ao movimento pelo banimento dos andadores. A sra. percebe que ainda são muito usados?
Sim, se tem vendido bastante, é preciso realmente que uma campanha seja feita. Muitos pais ainda têm a mentalidade de que o aparelho é uma coisa segura, enquanto, na verdade, não é e não trás nenhum benefício para a criança. É apenas uma comodidade para os pais. Trabalho em pronto-socorro e vejo muitos casos de crianças com traumatismo craniano e até de morte, em decorrência de andadores. Devemos tentar diminuir esses acidentes.
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