Presidente da SBP destaca o papel dos pediatras na orientação ao uso de telas por crianças e adolescentes

“O médico pediatra tem um papel importante no cuidado da saúde das crianças e adolescentes, especialmente no que tange o uso excessivo de telas, em função das graves consequências à saúde desses indivíduos na vida adulta”. Foi com essas palavras que a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dra. Luciana Rodrigues Silva, iniciou sua fala no painel “Bem-estar na era digital no contexto brasileiro”, durante a 12ª edição do Safer Internet Day (Dia da Internet Segura), nesta terça-feira (11), em São Paulo (SP). O evento, que é celebrado simultaneamente em 140 países, tem o intuito de destacar ações de promoção do uso positivo, saudável e seguro da internet.

Dra. Luciana enfatizou que a SBP tem voltado o olhar para essa questão e atuado fortemente na qualificação dos pediatras para que estejam, cada vez mais, capacitados para tratar desse assunto com seus pacientes. “A internet possui amplas vantagens, mas há uma vulnerabilidade maior das crianças e adolescentes devido à incompletude na formação de sinapses neuronais. Uma questão importante citada aqui hoje foi a autocrítica. E pergunto: como podemos estimular o público infantojuvenil a ter autocrítica e autocuidado?”, enfatizou.

RISCOS - Falta de afeto e abandono, falta de limites, violência familiar, uso de drogas e evasão escolar foram alguns dos fatores de risco citados por dra. Luciana para o uso inadequado da internet por crianças e adolescentes. “Os pediatras, as famílias e as escolas precisam estabelecer medidas protetoras para nossas crianças e debater, especialmente entre os adolescentes, a questão da dependência digital e de jogos eletrônicos”, ressaltou.

Entre as medidas de proteção citadas pela especialista estão o diálogo e o respeito, desenvolvimento de valores éticos e humanistas, as regras de convivência, entre outras. “Deixar crianças e adolescentes soltos o tempo todo na internet traz ainda riscos à sexualidade, como sexting, grooming, estupro virtual e o relacionamento com múltiplos parceiros”, destacou.

Segundo estudo publicado no Cyberpsichology, Behavior and Social Networking, que avaliou 89 mil pessoas em 31 países, a dependência da internet afeta cerca de 6% da população global. “No Brasil, um a cada quatro adolescentes brasileiros é dependente de internet, de acordo com estudo realizado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) com mais de dois mil adolescentes, que está associada a transtornos como a ansiedade”, exemplificou dra. Luciana.

Ela citou ainda outros estudos recentes que demonstram como o uso frequente das redes sociais interfere negativamente no bem-estar, satisfação pessoal e felicidade quando combinado com a falta de atividade física, pouco sono e cyberbullying. “São inúmeros os problemas ocasionados, como riscos auditivos pelo uso constante de fones de ouvido com volume acima de 80db, transtornos de sono, visuais, entre outros”, observou. “Se não houver o limite do uso da tela às crianças e adolescentes, eles se tornarão adultos sedentários e propensos a desenvolver doenças como obesidade”, complementou.

A presidente da SBP finalizou citando as recomendações da instituição para o uso saudável de telas, que podem ser encontradas nos documentos científicos e manuais de orientação intitulados #Menos Telas # Mais Saúde; Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de crianças e adolescentes; Uso saudável de telas, tecnologias e mídias nas creches, berçários e escolas; Saúde de crianças e adolescentes na Era Digital; e Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência, produzidos pelos Departamentos Científicos e Grupos de Trabalho da SBP e podem ser encontrados neste link: https://www.sbp.com.br/documentoscientificos/

PARTICIPAÇÕES - Além da presidente da SBP, outros renomados especialistas compuseram a mesa-redonda do painel: Luísa Adib, responsável pela pesquisa Tic Kids online Brasil; Daniel Tornaim Spritzer, psiquiatra e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e Patrícia Osório, coordenadora de Políticas de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A mediação do debate foi feita por Daniele Kleiner Fontes, gerente de Bem-Estar do Facebook Brasil.

Safer Internet Day é uma iniciativa anual com objetivo de envolver e unir os diferentes atores, públicos e privados, na promoção de atividades de conscientização em torno do uso seguro, ético e responsável das TICs, nas escolas, universidades, ONG's e na própria rede. Com esta motivação, o Dia da Internet Segura, criado pela Rede Insafe na Europa, reúne atualmente mais de 140 países para mobilizar usuários e instituições em torno da data e estimular um uso livre e seguro. As ações podem acontecer entre janeiro e fevereiro, on e off-line em diferentes contextos.