O Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) – em parceria com a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – treinou cerca de 42 parteiras tradicionais indígenas de várias comunidades de Boa Vista (RR). O curso, realizado no início de abril, visa ajudar as parteiras das comunidades indígenas a diminuírem os casos de mortalidade infantil por asfixia, por meio da capacitação do minuto de ouro, quando alguns bebês nascem sem respirar e precisam de ajuda. Cerca de 50 parteiras tradicionais também foram treinadas em Manaus (AM) e outras 50 foram capacitadas em Macapá (AP).
O treinamento de parteiras tradicionais, incluindo as parteiras indígenas, foi realizado por instrutores do PRN-SBP, as médicas pediatras e neonatologistas dras. Marynéa Vale e Rossiclei Pinheiro.
Dra. Marynéa ressaltou que a SBP preconiza que em cada nascimento deva ter um pediatra na sala de parto. Contudo, ela reforça que ainda existem muitas localidades no Brasil com difícil acesso aos serviços de saúde, onde o trabalho das parteiras tradicionais, especialmente as indígenas, pode ajudar na redução da mortalidade neonatal por asfixia, desde que estejam treinadas para intervir no minuto de ouro e salvar vidas.
“Importante reforçar que nos estados onde existe um maior número de parteiras, como a Região Norte, existem instrutores capacitados e credenciados pelo PRN-SBP para dar continuidade a esse treinamento”, complementou. Já a dra. Vilma Hutim, uma das instrutoras presentes no treinamento, reforçou a importância dos cursos e sua emoção ao participar da atividade.
“Me sinto contemplada hoje, porque há 10 anos eu fiz um curso para instrutor, mas devido à atualização do material eu não prossegui. Fica aqui a minha contemplação ao nosso grupo de coordenadores para dar prosseguimento ao trabalho no nosso estado. Muito obrigada pela oportunidade da Sociedade Amazonense de Pediatria e o grande apoio dos parceiros”, destacou.
INSTRUTORAS – Além das parteiras tradicionais, houve ainda treinamento para médicas que gostariam de se tornar instrutoras do curso. Em Boa Vista, foram habilitadas seis instrutoras; em Manaus mais 15; e, em Macapá, outras 12. Nos cursos, estiveram presentes especialistas de outros estados, incluindo do Tocantins, Pará e Acre.
Uma das treinadas foi a dra. Camila Salomão, presidente da Sociedade Amapaense de Pediatria, que ficou contente em poder adquirir mais conhecimento e saber que poderá contribuir para diminuir as taxas de mortalidade e dar uma assistência melhor para as crianças.
"No Amapá, a distância física e cultural dos municípios em relação à capital complica o acesso a serviços de saúde, sendo que algumas localidades só são acessíveis de barco ou por estradas precárias, onde muitas vezes faltam estruturas nas unidades de saúde. Neste contexto, muitas crianças nascem em casa, assistidas apenas por parteiras. O curso oferecido pela SBP busca reduzir essas desigualdades, ao capacitar as parteiras para estarem melhor preparadas no manejo dos recém-nascidos. Isso permite a aplicação do 'minuto de ouro', essencial para diminuir a alta taxa de mortalidade infantil, especialmente por asfixia perinatal", enfatizou.
DOAÇÃO – Além do curso de capacitação, as mulheres que participaram do treinamento receberam o Manual de Reanimação Neonatal das Parteiras Tradicionais do PRN-SBP e o kit de reanimação contendo os seguintes materiais: balão auto inflável, estetoscópio, tesoura cirúrgica, fraldas, máscaras, luvas,manta térmica, termômetro clínico e fita para ligar o cordão umbilical, doados pelos apoiadores Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
Além da Igreja, o curso contou com apoio do município de Laranjal do Jari, do município de Mazagão e da Secretaria de Saúde do Estado, em Macapá. Uma das treinadoras do PRN e que esteve nas cidades, dra. Rossiclei Pinheiro, destacou ainda como o treinamento para parteiras tradicionais está inserido nas ações de humanização em saúde e educação, que fazem parte dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
“Pactuamos para diminuição da mortalidade neonatal por asfixia associada ao nascimento. O procedimento mais importante para essa redução da asfixia é a ventilação com balão e máscara no primeiro minuto de vida e a estabilização clínica para o transporte para o hospital. A parceria com a comunidade cristã nos proporciona a entrega de kits de assistência ao parto para as parteiras tradicionais que foram treinadas. Durante os treinamentos elas reconhecem a importância de todos os materiais. Após o treinamento é realizada avaliação de conhecimentos e habilidades de todos os participantes”, concluiu a pediatra.
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