A edição deste ano do Prêmio Dasa de Inovação Médica, com a curadoria da revista Veja Saúde, laureou o projeto “Triagem neonatal ampliada para imunodeficiências congênitas associadas a outras deficiências”, na categoria “Inovação em Genômica”.  Um dos autores do trabalho é o presidente do Departamento Científico de Imunologia Clínica da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o dr. Antonio Condino-Neto; ao lado da dra. Fátima Fernandes, diretora executiva do Instituto Pensi.

O projeto, realizado pelo Laboratório de Imunologia Humana do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e pelo Instituto Pensi, ampliou a triagem neonatal do Teste do Pezinho. O exame, realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), antes detectava apenas seis tipos de doenças e, hoje, por conta desse trabalho rastreia mais de 400 doenças que fazem parte dos Erros Inatos da Imunidade (EII). O trabalho já vem sendo desenvolvido há aproximadamente 10 anos e contou com quatro fases de maturação.

"Começamos no ICB-USP, no Departamento de Imunologia, onde sou professor titular. Nosso objetivo era estabelecer esse plano de pesquisa e implantar a técnica no Brasil, conhecida como TREC e KREC, que permite a detecção da imunodeficiência grave combinada e da agamaglobulinemia. Em suma, os defeitos mais graves do sistema imunológico. O ponto alto da implementação dessa tecnologia é que ela também é útil para a detecção de uma série ampla de outras imunodeficiências que afetam os linfócitos T e B, que são menos graves, mas que também requerem o tratamento mais precoce possível”, detalha o especialista da SBP.

O projeto estabeleceu parceria com 18 hospitais e maternidades do País. As triagens vêm sendo realizadas em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. “A ampliação da triagem neonatal já cobre uma área com aproximadamente 45 milhões de habitantes. O laboratório Immunogenic, spin off do Laboratório de Imunologia Humana do ICB USP, em parceria com o Instituto Jô Clemente, faz a triagem da parte imunológica de cerca de 8 mil recém-nascidos por mês. E já encontramos sete casos de imunodeficiência grave combinada; um caso de agamaglobulinemia; e um caso de leucemia congênita, o que foi um feito inédito mundialmente por meio da triagem neonatal estabelecida”, detalha dr. Condino-Neto.

PREMIAÇÃO – O Prêmio Dasa de Inovação Médica tem como objetivo reconhecer projetos, instituições e profissionais de saúde que fazem a diferença nas áreas científica, clínica e assistencial. “Esse reconhecimento nos deixou muito felizes, por se tratar de um trabalho que vemos na prática a implementação da metodologia no âmbito da saúde pública. Já estamos diagnosticando crianças com erros inatos da imunidade precocemente, ainda no período neonatal”, disse o pediatra.

Dr. Condino-Neto ressalta, ainda, a colaboração da dra. Carolina Sanchez Aranda, professora adjunta do Departamento de Pediatria da Unifesp, que é a responsável pelo acompanhamento dessas crianças. “Temos a oportunidade de observar os progressos e os tratamentos dessas crianças que estão sendo triadas nesse projeto de ampliação. Essa é uma história bastante feliz, que começou como pesquisa acadêmica e acabou virando política pública, com resultados muitos positivos, reduzindo a mortalidade infantil e proporcionando bem-estar para as crianças brasileiras”, comemora.

O diretor dos Departamentos Científicos e Grupos de Trabalho da SBP, dr. Dirceu Solé, exalta a premiação que, segundo ele, consagra o envolvimento e a dedicação há décadas do dr. Antonio ao estudo dos Erros Inatos da Imunidade. “Desde a sua implantação no município de São Paulo, vários pacientes com imunodeficiências graves, com potencial elevado de virem a falecer por quadros infecciosos graves, foram identificados e submetidos à terapêutica corretiva e vivem atualmente muito bem.  A SBP se orgulha de ter esses dois pesquisadores em seu seio e os parabeniza pelo inestimável bem que têm proporcionado às crianças. O diagnóstico precoce gera tratamento em condições mais favoráveis e maior taxa de sobrevida”, afirma dr. Dirceu.