O epidemiologista e professor dr. Cesar Victora acaba de ser anunciado como vencedor deste ano do Richard Doll Prize in Epidemiology, principal premiação científica na área da epidemiologia mundial. Concedido a cada três anos pela International Epidemiological Association (IEA), a iniciativa laureia pesquisas epidemiológicas que promovam o avanço do conhecimento de condições que sejam importantes para a saúde humana.
“Fui o quinto ganhador desde o lançamento deste prêmio, e o primeiro que trabalha em um país em desenvolvimento. Recebi a premiação com imensa satisfação, já que se trata de um reconhecimento por toda a trajetória de vida e de pesquisa aos epidemiologistas que contribuíram para a saúde global. Além disso, é um reconhecimento para a epidemiologia brasileira, que há muitos anos se destaca no cenário mundial”, analisa dr. Victora.
O médico brasileiro é professor emérito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e diretor do Centro Internacional de Equidade em Saúde, e suas pesquisas impulsionaram políticas globais sobre amamentação, nutrição infantil e desigualdades na saúde. Seus estudos, na década de 1980, levaram à descoberta da importância da amamentação exclusiva para a sobrevivência infantil, e moldaram políticas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Até então, não havia o conhecimento de que o aleitamento exclusivo até os seis meses de idade seria tão essencial, e esta recomendação é atualmente endossada pela SBP e por sociedades pediátricas em todo o mundo. A IEA também destacou a minha participação como um dos líderes da criação das curvas de crescimento infantil da OMS, baseadas em crianças amamentadas e que hoje são adotadas em mais de 140 países, inclusive na maior parte dos países desenvolvidos”, enumera dr. Cesar, que ocupa, ainda, posições honorárias nas universidades de Oxford, Harvard e Johns Hopkins.
O epidemiologista, que esteve à frente da maior pesquisa epidemiológica sobre a covid-19 feita no Brasil, a Epicovid-19, considera o prêmio como um reconhecimento à ciência brasileira. Porém, o médico considera que o país enfrenta, nesta área, a pior crise dos últimos 50 anos.
“Por um lado, autoridades políticas e de saúde, particularmente no nível federal, ignoram e menosprezam o conhecimento científico, especialmente em termos da condução da pandemia do novo coronavírus e da destruição ambiental na região amazônica. Em segundo lugar, os cortes do orçamento federal para ciência e tecnologia nunca foram de tal magnitude. Nossos governantes estão devastando um sistema que os cientistas brasileiros criaram a muito custo, com décadas de trabalho árduo” lamenta dr. Cesar.
O Prêmio Richard Doll é concedido pela IEA em comemoração ao legado do médico britânico Richard Doll (1912-2005). Ele foi pioneiro em pesquisas que relacionaram o tabagismo ao câncer de pulmão e ao aumento do risco de doenças cardíacas. Além disso, realizou importantes estudos relacionando a radiação à leucemia, assim como amiantos ao câncer de pulmão e álcool ao câncer de mama.
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