Residentes poderão contar com suporte psiquiátrico e psicológico oferecido por instituições médicas

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou proposta que garante assistência psiquiátrica e psicológica gratuita aos estudantes de Medicina e médicos residentes. A obrigação de dar o suporte recairá sobre as instituições aos quais os residentes estão vinculados: hospitais universitários e universidades.

A medida está contida no Projeto de Lei nº 10105/18, do Senado, de autoria da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), que altera as Leis nº 6.932/81, que trata da residência médica, e nº 12.871/13, que instituiu o Programa Mais Médicos.

Para a presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, dra Luciana Rodrigues Silva, esse é um tema urgente e que deve ser foco do trabalho da defesa profissional da entidade. “Os jovens médicos, em especial os residentes, estão expostos a uma série de situações negativas que comprometem sua saúde e sua qualidade de vida. Cabe ao estado oferecer as condições para que possam atuar e se desenvolver como especialistas e profissionais. Nesse sentido, assegurar toda a ajuda possível para superar quadros adversos dos problemas no encontrados no sistema é uma obrigação que deve ser cumprida”, ressaltou.

DEPRESSÃO - A relatora, deputada Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), recomendou a aprovação da proposta lembrando a incidência elevada de depressão e de pensamentos suicidas entre estudantes de Medicina. “A proposta pode contribuir decisivamente para evitar essas manifestações, de todo indesejáveis para os futuros médicos e para a sociedade em geral”, destacou.

Segundo a deputada, garantir a saúde mental dos estudantes é iniciativa imprescindível de assistência ao estudante da educação superior. O projeto tramita em caráter conclusivo e ainda será analisado pelas Comissões de Seguridade Social e Família; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Os dados comprovam a pertinência da matéria. Apesar de ainda inexistirem estudos específicos sobre a realidade brasileira, trabalhos internacionais apontam uma tendência que deve se reproduzir no País. De acordo com os resultados de pesquisa realizada pela plataforma Medscape, com mais de 15 mil médicos, com idades entre 28 a 70 anos, as taxas de burnout, depressão e suicídio têm aumentado por conta do esgotamento profissional.

Esse tipo de situação pode comprometer o trabalhador em três âmbitos: individual (físico, mental e social), organizacional (conflito com colegas e piora da qualidade/produtividade) e profissional (negligência, lentidão e impessoalidade com colegas e terceiros). Entre os sintomas mais comuns estão: perda do entusiasmo; distanciamento emocional; exaustão; perda do sentimento de realização pessoal; e sentimentos de cinismo.

BURNOUT - De acordo com a Medscape, 44% dos médicos entrevistados reportaram sofrer de burnout, 11% se definiram como “deprimidos” e 4% receberam o diagnóstico de depressão. Entre homens e mulheres, as taxas foram maiores entre profissionais do sexo feminino. Os participantes da pesquisa citaram os principais motivos que os levaram a se estressar e se desmotivar no trabalho. Entre eles estão o excesso de burocracia (paperwork), passar muitas horas no trabalho e aumento da “computatorização” da prática (ex: uso de prontuário eletrônico).

A pesquisa mostrou também que o número de médicos que têm pensamentos suicidas aumentou no último ano. No total, 14% reconheceram pensar em suicídio, mas apenas 1% alegou ter tentado se suicidar. Quando questionados sobre buscar ajuda para tratar o esgotamento profissional, apenas 13% dos entrevistados revelaram estar em tratamento. Mais da metade dos médicos (64%) nunca procurou ajuda profissional. Entre os motivos para isso, estão “não achar que os sintomas são graves o suficiente” e “achar que pode resolver sozinho o problema”.

Outro estudo, realizado pela International Stress Management Association, também aponta a gravidade da incidência da Síndrome de Burnout junto à população médica. Segundo o estudo, esse distúrbio atinge 32% dos profissionais ativos no mercado, sendo que mais da metade desse grupo é composta por médicos.

ALTO RISCO - O distúrbio pode acometer o profissional de saúde em todas as fases da carreira, tanto no começo quanto no auge da profissão. Um estudo realizado entre 2010 e 2011, e publicado no começo de outubro de 2018 na revista Jama Network, mostrou que os riscos de desenvolvimento da Síndrome de Burnout são altos também em estudantes de Medicina e médicos na Residência.

O levantamento contou com 3.588 participantes que responderam dois questionários, no primeiro os indivíduos estavam no quarto ano da graduação em Medicina, no segundo os participantes estavam no último ano da Residência. Os desfechos primários observados foram sintomas de Burnout e arrependimento na escolha da carreira ou da especialidade.

Manifestações clínicas da síndrome foram reportadas por 1615 médicos residentes (45,2%; IC 95%, [43,6%-46,8%]) que informaram sofrer de um ou mais sintomas semanalmente, e 502 médicos residentes relataram se arrepender da escolha da especialidade ou da carreira. (14,1%; IC 95% [12.9%-15.2%). Na Residência, as especialidades que mais tiveram indivíduos insatisfeitos foram urologia (63.8%), neurologia (61.6%), emergência médica (53.8%) e cirurgia geral (53.8%). (Com informações da Agência Câmara e da Medscape)