Resultados do ENANI apontam para a necessidade do incentivo ao aleitamento materno exclusivo

Os resultados do quarto relatório técnico do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) mostram que metade das crianças brasileiras são amamentadas por mais de 1 ano e 4 meses. Além disso, quase todas as crianças no País foram amamentadas alguma vez (96,2%) na vida, sendo que dois em cada três bebês são amamentados na primeira hora (62,4%). O aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses abrange 45,8% dos bebês; 52,1% aos 12 meses; e 35,5% aos 24 meses de vida. Os dados foram apresentados em seminário aberto ao público no último dia 10 de novembro.

https://enani.nutricao.ufrj.br/wp-content/uploads/2021/11/Relatorio-4_ENANI-2019_Aleitamento-Materno.pdf

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A dra. Elsa Giugliani, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), participou do debate, que contou ainda com pesquisadores e professores de universidades brasileiras e representantes do Ministério da Saúde. De acordo com os especialistas, a expectativa é que os dados possam pautar políticas públicas para o fortalecimento do aleitamento materno no Brasil.

“De forma geral, os resultados foram positivos, com uma melhora em todos os indicadores de aleitamento materno quando comparamos com a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS-2006), ainda que estejamos num ritmo de crescimento mais lento. No entanto, no Brasil, um terço das mulheres estão amamentando, segundo as recomendações da OMS, de 24 meses ou mais. Esse é um dado que precisa ser celebrado e comemorado”, disse dra. Elsa Giugliani.

Esses números são crescentes, mas ainda estão distantes da meta da OMS para 2030: 70% na primeira hora de vida, 70% nos primeiros seis meses, de forma exclusiva, 80% no primeiro ano e 60% aos dois anos de vida.

AMAMENTAÇÃO CRUZADA - O relatório do ENANI também levantou dados inéditos a respeito da amamentação cruzada, prática culturalmente difundida no Brasil e contraindicada pelo Ministério da Saúde em função do risco de transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). De acordo com o texto, uma em cada cinco mães brasileiras amamentou o filho de outra pessoa ou deixou a criança ser amamentada por outra mulher. A prática é mais frequente na região Norte (34,8%), seguida das regiões Sudeste (21,3%), Nordeste (20,3%), Centro-Oeste (18,7%) e Sul (12,5%). A prevalência é mais comum entre mulheres pretas (24,8%) e pardas (23,7%), e em seguida vem as mulheres brancas (15,5%).

BANCOS DE LEITE – Ainda de acordo com o levantamento, a doação para bancos de leite humano (BLH) é de apenas 4,8% das mães de crianças com menos de dois anos de idade aderiram à prática. O dado mostra a necessidade do fortalecimento de ações, políticas e programas de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno.

“No universo de mulheres que amamentam, menos de 5% doam leite. É muito pouco. Temos que trabalhar mais essa questão. A região Sul (7,1%) é a que mais doa leite, mas não é a que mais oferece leite doado para as crianças. Por outro lado, na região Centro-Oeste, a doação é menor que a região Sul, mas registra a mesma prevalência de crianças que recebem o leite doado. Então, é uma questão que deve ser vista com cuidado para a implementação de políticas públicas”, avalia.

DESAFIOS – Os especialistas ressaltaram que é necessário a realização de ações de incentivo ao aleitamento materno exclusivo e a continuidade do aleitamento materno até os dois anos de vida ou mais. Além disso, defenderam a importância de promover amplo debate com a sociedade sobre aleitamento materno cruzado, doação de leite humano e riscos associados ao uso de chupetas e mamadeiras.

Com expectativa de ser realizado a cada cinco anos, o ENANI conta com a parceria de dezenas de universidades e instituições públicas brasileiras. É financiado pelo Ministério da Saúde por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).