Iniciativa pioneira aborda desafios e coloca o tema na agenda prioritária da pediatria
O doador pediátrico é uma raridade. Encontrar um doador apto é um dos principais desafios no esforço para salvar a vida de crianças que aguardam uma oportunidade nas filas para transplante: hoje, 35 mil pessoas esperam a doação de um órgão para sobreviver, das quais 434 são crianças. O panorama atual e os desafios do transplante pediátrico foram discutidos nessa terça-feira (8) em workshop inédito do 39º Congresso Brasileiro de Pediatria (30º CBP), realização da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
“É a primeira vez em um congresso de pediatria geral que o tema transplante pediátrico foi incluído. Em geral, esse assunto é abordado nos congressos de uma ou outra especialidade”, diz a dra. Themis Reverbel da Silveira (RS), uma das coordenadoras do seminário. “Penso que hoje em dia, com a divulgação e amplidão de casos que precisam de transplante, o pediatra precisa se familiarizar com essa situação”.
O workshop sobre transplante pediátrico é uma das atividades preliminares do 39º CBP, que começa oficialmente nesta quarta-feira (9) e que mobilizará os mais renomados especialistas nacionais e internacionais, médicos pediatras, profissionais de saúde e acadêmicos de todo o País. Com uma programação robusta e variada, o evento acontece no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) até sábado (12).
Durante o seminário, os painelistas apresentaram um panorama do transplante pediátrico no Brasil, seus desafios e os principais gargalos enfrentados nesse atendimento. “Não temos conseguido aumentar o volume de transplantes”, avalia a dra. Clotilde Druck Garcia (RS), especialista em transplante de rim. Segundo ela, o tempo médio de espera por um rim é de 14 meses e o diagnóstico de insuficiência renal crônica em crianças atinge a marca de 600 casos novos por ano, em um ambiente de redução da capacidade de atendimento. “No Brasil e no mundo, o volume de centros especializados em transplante é cada vez menor”, avisou.
Pediatra especialista em nefrologia, dra. Viviane de Barros Bittencourt (RS) discorreu sobre as complicações mais frequentes, abordando o que o pediatra precisa saber e o que não deve fazer para atender uma criança transplantada. Segundo ela, muitos pacientes são perdidos por falta de cuidados básicos. “O nosso principal objetivo é que a criança transplantada leve uma vida normal”, afirma. Ela destacou diversas iniciativas que devem ser evitadas no acompanhamento dessas crianças, como a aplicação de vacinas, por exemplo. “Todas as vacinas de vírus vivos devem ser ministradas antes do transplante”, avisou.
DIFICULDADES – Ao falar sobre os desafios para se aumentar a doação de órgãos, dra. Fernanda Paiva Bonow (RS), coordenadora da Organização de
Procura de Órgãos (OPO), destacou que mais de mil pessoas morrem na fila antes de conseguir um órgão. Segundo ela, um dos principais gargalos da realização de transplantes no Brasil é o diagnóstico de morte encefálica. “Há um tabu para enxergar a morte e faltam médicos capacitados para cumprir o protocolo”, afirmou.
Outro gargalo é a resistência dos familiares em autorizar a doação de órgão: 41% das famílias recusam o procedimento por motivos diversos, desde a má compreensão sobre a morte encefálica até questões religiosas. Dra. Fernanda defendeu uma maior organização do sistema de doação de órgãos para que o atendimento dos pacientes seja mais eficaz.
Dr. Cristiano Augusto Franke (RS), diretor da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), apresentou os novos critérios para o diagnóstico da morte encefálica emanados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Resolução publicada em 2017 definiu as premissas e procedimentos a serem observados, entre eles que o diagnóstico seja feito por médico especialista. “A nova resolução garante segurança no diagnóstico e nos procedimentos”, explicou,
INCENTIVO À DOAÇÃO – Para a dra. Themis, é preciso ampliar o debate em torno do transplante pediátrico em todo o país. Mais que ampliar a capacitação do pediatra, diz, é preciso esclarecer a sociedade sobre o assunto e estimular a doação de órgãos. “Frequentemente, temos campanhas de vacinação e o pediatra precisa saber a quais vacinas que um transplantado, um candidato a transplante ou um recém-transplantado pode se submeter e participar das campanhas”, justifica a especialista. “O transplante só existe quando existe doador. Então, nós temos que discutir o assunto doação com os jovens, com quem entra na faculdade. Nós temos que nos comunicar com a sociedade e com a comunidade pediátrica”.
Idealizadora do workshop, dra. Themis alertou para a alta incidência de subnotificação de casos. “O registro de menos de 500 crianças na fila de espera não expressa a realidade. Nós temos muitos Brasis”, disse. Para ela, ao abraçar o tema e abrir o debate, a SBP oferece uma contribuição inestimável ao manejo da saúde infantil. “O trabalho que a dra Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP, e a direção estão fazendo Brasil afora é da maior importância. Leva conhecimento, leva apoio, aumenta a autoestima do pediatra”, comentou.
“Penso que a divulgação, o conhecimento é o primeiro passo. Nós temos que levar mais para o Centro-Oeste e o Norte do País o que se faz no Sul e Sudeste”, acrescentou, referindo-se à disseminação das práticas que levaram os Estados de Santa Catarina e Paraná a registrarem índices de doação iguais aos da Espanha, considerada a melhor experiência mundial nesse campo.
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