SBP divulga documento com foco na avaliação neurológica de crianças e adolescentes

“Sinais de alerta na avaliação neurológica da criança e do adolescente”. Esse é o tema do documento científico publicado nesta semana pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no intuito de auxiliar os pediatras a identificar, durante a anamnese, os principais indícios de patologias neurológicas, distúrbios neurocomportamentais e problemas no neurodesenvolvimento do paciente.

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Conforme esclarece a publicação, o acompanhamento do desenvolvimento por vezes é subjetivo e, durante essa avaliação, dois recursos científicos são fundamentais para uma adequada investigação diagnóstica: os marcos do desenvolvimento, que representam as habilidades em progressão adquiridas dentro de faixas etárias esperadas; e os sinais de alerta, que correspondem à falta de habilidade ou anormalidade em determinada etapa.

Segundo reforça o documento, os sinais de alerta são o ponto de partida para a investigação de possíveis distúrbios, manifestações cada vez mais prevalentes na população pediátrica. Atualmente, estima-se que de 1% a 3% das crianças tenham atraso global do desenvolvimento e que 1% será diagnosticada com transtorno do espectro autista (TEA). “Outros problemas relacionados com o desenvolvimento e comportamento acometem de 20% a 25% das crianças pequenas, podendo evoluir para transtornos graves, se não forem tratados”, afirma o texto.

DETECÇÃO NA CONSULTA - Os sinais de alerta do desenvolvimento infantil anormal ou atípico são inúmeros, assim, é recomendado ao pediatra selecionar um quadro de referência para consulta frequente. Devido à alta prevalência do TEA é fundamental que, em todo atendimento de puericultura, sejam averiguados possíveis indícios do transtorno. Os pais devem ser questionados a respeito da presença de alguns dos sinais mais comuns, entre eles: comportamento visual atípico; ausência de expressões afetuosas e alegres; incapacidade de atender a um chamado; repetição de movimentos com objetos; e outras.

A publicação da SBP também destaca a necessidade de aferir a medida do perímetro, volume e formato do crânio do paciente. Possíveis alterações podem indicar a presença de problemas, como hidrocefalia, hematoma subdural, aumento do parênquima cerebral de origem metabólica, genética, macrocefalia familiar, entre outros.

Além disso, procedimentos para avaliação do equilíbrio estático e dinâmico, com a busca de possíveis alterações na marcha e coordenação motora, também são aconselhados para a rotina de acompanhamento.

CRIANÇA HIPOTÔNICA – De acordo com o documento, as alterações no tônus muscular – com redução da movimentação espontânea – constituem uma das manifestações clínicas mais comuns observadas em lactentes com atraso no desenvolvimento neurológico. A publicação elaborada pelos especialistas da SBP traz informações sobre a variação cronológica do tônus muscular, com um passo a passo para a realização das manobras de detecção da hipotonia, sendo as principais delas: suspensão vertical; suspensão horizontal; resposta à tração; e “sinal do cachecol”.

Além disso, conforme ressalta o texto, durante a investigação etiológica de um lactente hipotônico, um dos passos iniciais é determinar se a hipotonia é acompanhada de fraqueza muscular (hipotonia periférica) ou não (hipotonia central). Geralmente, as seguintes causas estão associadas à condição: sepse; hipoglicemia; hiponatremia; hipotireoidismo; cardiopatias graves; e erros inatos do metabolismo.

“Quando ocorre a identificação de três ou mais características dismórficas, as síndromes genéticas (Síndrome de Down, Edwards, Prader-Willi, Kabukie outras) também podem ser consideradas como fatores de propensão para a hipotonia”, complementa o documento.

IRRITAÇÃO MENÍNGEA – Ainda segundo o documento da SBP, o conhecimento dos sinais de irritação meníngea também é fundamental, especialmente para os atendimentos de emergência. No geral, os sintomas dessa condição são decorrentes de espasmos da musculatura paravertebral, estiramento de raízes e meninges inflamadas. Os indícios de alerta clássicos são rigidez de nuca, solavanco e outras flexões involuntárias, como o sinal de Kernig e de Brudzinsk.

Em crianças pequenas, ainda no primeiro ano de vida, outros sintomas permitem a suspeita diagnóstica, tais como: febre; irritabilidade; choro persistente; grito meníngeo (a criança grita ao ser manipulada, principalmente quando se dobra as pernas para trocar a fralda); recusa alimentar, acompanhada ou não de vômitos; convulsões; e abaulamento da fontanela.

Por fim, o documento apresenta uma série de características e distinções necessárias para a realização do diagnóstico diferencial de eventos paroxísticos não epilépticos e outros movimentos involuntários, que podem eventualmente conter semelhanças com as crises epilépticas, mas não envolvem descargas neuronais anormais em sua fisiopatologia. Algumas das principais são: síncope; crises de perda de folego; terror noturno; estereotipias motoras; estremecimento súbito; e mais.