A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) divulgaram nesta sexta-feira (17) as “Diretrizes para sibilância e asma no pré-escolar”, abordando os possíveis agentes etiológicos, prevalência, diagnostico diferencial, assim como tratamento e prevenção da sibilância e asma em pré-escolares.
Parcela significativa de crianças com asma desenvolve sintomas nos primeiros anos de vida, mas nem sempre a sua confirmação diagnóstica e fácil. Sendo assim, especialistas de ambas as instituições envolvidos no atendimento desses pacientes elaboraram o documento de 46 páginas, financiado com recursos próprios das duas associações, cuja finalidade, a luz dos conhecimentos mais atuais, é fornecer ferramentas que permitam ao clinico estabelecer o diagnóstico de asma de modo mais preciso, além de permitir acesso a tratamento mais especializado a pacientes menores de cinco anos.
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DOENÇA CRÔNICA - A asma é a doença crônica mais comum na infância e pode causar morbidade significativa, com impacto na frequência escolar, nos atendimentos em serviços de urgência, hospitalização, entre outros. Trata-se de doença heterogênea e caracterizada, geralmente, por inflamação crônica das vias aéreas. É definida pela história de sintomas respiratórios tais como sibilância, respiração rápida e curta, aperto no peito e tosse, que variam com o tempo e a intensidade, associados a variação do fluxo expiratório.
“Em geral, a asma se inicia nos primeiros anos de vida e pode ser confundida com outras doenças que também cursam com os sintomas acima descritos, o que retarda a instituição de tratamento adequado. Segundo alguns autores, a referência a expressão “sibilância recorrente”, ou seja, mais de três episódios de sibilância por ano, tem sido por eles defendida como sinônimo de asma. Nessa fase da vida e importante identificar os principais agentes desencadeantes de episódios de sibilância”, diz o documento.
O documento discute ainda pontos sobre o microbioma respiratório, em que há evidencias sugestivas de que a mucosa respiratória saudável é habitada por microbiota especifica com maior densidade nas vias aéreas superiores. Também trata acerca do papel de agentes infecciosos distintos na gênese da asma e suas variações.
VÍRUS – Um dos destaques das Diretrizes é sobre a questão dos vírus, cujos estudos epidemiológicos com crianças com diagnóstico de pneumonia aguda adquirida na comunidade mostraram o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) como o agente etiológico mais comum em vários continentes e responsável por epidemias de asma em todo o mundo. Acima de 90% das crianças com até dois anos de idade apresentam anticorpos para o VSR, denotando algum contato com este vírus até esta idade.
Outros vírus, como o rinovírus humano (RVH), influenza, o grupo parainfluenza e o adenovírus, também estão entre os agentes causadores de infecções do trato respiratório inferior em crianças menores de cinco anos de idade. O coronavírus, bocavírus e metapneumovírus também foram isolados em secreções de crianças com infecções agudas do trato respiratório inferior, sendo que boa parte dos pacientes apresentavam sibilos como sintoma, porém o papel destes vírus na sibilância recorrente ainda é discutido.
Já os enterovírus têm sido responsabilizados por ocasionar quadros de sibilância em crianças, e tanto o VSR como o RVH são capazes de produzir doenças agudas graves do trato respiratório inferior (bronquiolite) que requerem hospitalização, e evidências apontam estes vírus como envolvidos em risco subsequente de sibilância e desenvolvimento de asma.
BACTÉRIAS – Além dos vírus, investigações comprovam a relação entre o microbioma do hospedeiro e o início de exacerbações de asma. Estudo mostra associação entre a colonização da hipofaringe neonatal por Haemophilus influenza, Streptococcus pneumoniae e Moraxella catarrhalis com o aumento do risco de desenvolver sibilância recorrente e asma na infância.
Não é claro, a partir desses achados, se a colonização precoce com esses organismos influencia o desenvolvimento da asma, ou se a presença desses organismos e um reflexo de um sistema imunológico modificado, que predispõe a alteração de respostas das vias aéreas do hospedeiro a agentes patogênicos respiratórios.
MORTALIDADE – A implantação de programas de combate a asma tem mudado os índices de morbidade e mortalidade até então conhecidos. O acesso à educação sobre asma, além da disponibilização de medicamentos a partir de 2002 para as formas mais graves, tem sido apontado como os principais responsáveis por esses fatos.
Os dados sobre mortalidade por asma em crianças brasileiras de até 19 anos de vida, durante os anos de 1980 a 2007, revelam queda significante da taxa de mortalidade anual por asma, indo de 0,89/100.000 habitantes a 0,30/100.000 habitantes, sendo a queda mais expressiva entre os menores de cinco anos.
DIAGNÓSTICO – O documento aborda ainda o diagnóstico clínico da asma no lactente e no pré-escolar; o diagnóstico laboratorial (alérgico e funcional); e o diagnóstico diferencial. Além disso, as Diretrizes discutem o tratamento de manutenção da asma com fármacos e os benefícios do guia de automanejo, que consiste na utilização da prática do autocontrole ou automonitoramento.
“Vários serviços especializados utilizam esse conceito de tomada de decisão pelo paciente frente aos sintomas da doença, podendo ser direcionada diretamente, ou não, pelo médico assistente. Em ambos os casos, as orientações são preferencialmente escritas e explicadas ao responsável/cuidador do paciente, uma vez que ele deverá tomar a decisão frente ao problema, sem necessariamente comunicar ao médico, e no segundo caso as principais decisões serão tomadas juntamente com o médico em consultas planejadas ou consultas extras”, explicam os especialistas.
O objetivo de um guia de automanejo, com plano de ação de asma definido, é auxiliar o paciente e/ou seu cuidador a tomar medidas precoces para prevenir ou reduzir a gravidade de uma crise de asma. Tenta-se ampliar os conceitos e definições de automanejo, especialmente para adolescentes, como o conjunto de comportamentos que os mesmos usam para prevenir, monitorar, gerenciar e comunicar sintomas de asma a outros indivíduos com o objetivo de controlar individualmente o que está ocorrendo de importância, e que pode estar influenciado por fatores interpessoais complexos e próprios ao paciente.
As Diretrizes foram elaboradas pelos drs. Herberto J. Chong Neto, Dirceu Solé, Paulo Camargos, Nelson A. Rosário, Emanuel C. Sarinho, Débora Carla Chong-Silva, Bernardo Kiertsman, Antônio C. Pastorino, Flávio Sano, Marilyn Urrutia-Pereira, Gustavo F. Wandalsen, Ana Caroline Dela Bianca de Melo, Bruno A. Paes Barreto, Fábio C Kuschnir, Joel Cunha, Luciana R. Silva, Mariane Cordeiro A. Franco, Maria Luisa O. Alonso, Murilo Britto, Neusa F. Wandalsen, Norma M. P. Rubini e Sidnei Ferreira.
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