SBP e CNMP lançam campanha “Crianças Desaparecidas” e orientam famílias e pediatras, em live aberta ao público

Estima-se que cerca de 10% das crianças e adolescentes desaparecidos jamais serão encontrados. No Brasil, aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes desaparecem todos os anos, deixando famílias devastadas e sonhos interrompidos. Atenta a este triste cenário, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) - em parceria com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) - lançou a campanha nacional “Crianças Desaparecidas”, na última quarta-feira (27), em um webmeeting aberto ao público. A ação tem como objetivo direcionar pediatras e famílias através de uma série de recomendações que podem ajudar a reduzir essas estatísticas e evitar que outros casos ocorram.

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Para debater o tema, participaram do evento a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva; a procuradora de Justiça e coordenadora de Direitos Humanos e Minorias do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Eliane de Lima Pereira; e a secretária do Departamento Científico (DC) de Segurança da SBP, dra. Luci Pfeiffer. A transmissão contou ainda com palestras dos drs. Sidnei Ferreira e Marco Antônio Chaves Gama, secretário-geral da SBP e presidente do DC de Segurança da entidade, respectivamente; e do servidor do MPRJ André Luiz Sousa Cruz.

Durante a abertura, dra. Luciana pontuou que a entidade tem como meta não só atualizar de maneira sistemática os pediatras, como também se voltar para as políticas públicas e para os problemas que acometem as crianças e adolescentes. “Sabemos que todos eles importam, pois são o futuro do nosso País. Por esse motivo, prezamos tanto por todas as questões sociais, de desigualdade e violências que podem afetar essa faixa etária. Precisamos conscientizar os pediatras, as famílias e as próprias crianças a se defenderem diante de qualquer risco de serem submetidas a um desaparecimento”, ressaltou.

IMPORTÂNCIA DO PEDIATRA - Para conscientizar os pediatras, o dr. Sidnei Ferreira alertou para as ações necessárias nas unidades de saúde. Ele pontuou que o profissional deve se integrar à administração do seu local de trabalho; e rotineiramente solicitar os documentos no momento que se faz o boletim de atendimento. “Se a criança chega sem documentação com seus acompanhantes, a administração deve identificar os pais e responsáveis e fazer com que a autoridade policial e conselho tutelar tomem conhecimento sobre o caso”, ressaltou.

Além disso, o especialista orientou que os pediatras devem atender os pacientes pensando sempre que podem se tratar de crianças e adolescentes desaparecidos. Segundo ele, ao examiná-los, é preciso observar o paciente para além da queixa explicitada durante a consulta, com atenção para o comportamento e para possíveis fraturas, hematomas e outros sinais que indiquem que a criança esteja sofrendo algum tipo de violência.

VIOLÊNCIAS - A violência intrafamiliar e virtual pode ser uma das causas de desaparecimento. A declaração é do dr. Marco Antônio, que apresentou dados do Ministério da Saúde, que indicaram que, em 2020, mais de 91 mil crianças e adolescentes sofreram violência física ou sexual. O pediatra alerta que esse cenário não corresponde com a realidade brasileira, e que a subnotificação invisibiliza as violências sofridas por milhares de vítimas.

“As crianças que nascem em uma família violenta entendem que aquela é uma forma habitual de vida. Muitos sofrem e não se acham suficientes para despertar o amor dos pais, iniciando até a prática de autoagressão. Em alguns casos, essas crianças veem como solução fugir daquela vida saindo de casa ou pelo suicídio”, explica.

O pediatra alertou ainda para o cenário de introdução precoce ao mundo virtual e como muitas crianças e adolescentes estão neste meio sem a supervisão de adultos. Com isso, expõem sua vida pessoal e familiar nas redes; conversam com pessoas desconhecidas; e ficam mais vulneráveis a pessoas com psicopatias diversas e interesses obscuros. Neste cenário, os desaparecimentos podem ocorrer por sequestros facilitados pelas informações obtidas na internet; cyberbullying; e crimes virtuais.

Na transmissão, os especialistas abordaram ainda os tópicos: cenário brasileiro de desaparecimentos e violências contra a população infanto juvenil; as dificuldades de articulação dos órgãos públicos; as formas de prevenção; entre outros.

INFORMAÇÃO - Uma das questões mais levantadas durante a transmissão foi sobre o déficit de conhecimento que as famílias e a sociedade possuem e como esse cenário favorece os desaparecimentos das crianças e adolescentes. Como parte da campanha “Crianças Desaparecidas”, a SBP elaborou 10 orientações fundamentais direcionadas aos pais e responsáveis para ampliar o acesso às informações de qualidade sobre o tema.

Entre as orientações destacadas, a SBP aconselha: faça a carteira de identidade (RG ou Passaporte) ainda na infância; mantenha as crianças sob supervisão constante de um adulto responsável; não atribua a outra criança ou adolescente a responsabilidade de olhar a criança; e não espere transcorrer 24 horas para comunicar o desaparecimento. 

CONFIRA AQUI TODAS AS ORIENTAÇÕES DA SBP