O aumento progressivo do número de pacientes alérgicos, sobretudo nas últimas décadas, tem gerado prejuízos à qualidade de vida e ao pleno desenvolvimento de uma parcela considerável da população pediátrica em todo o mundo. Para contribuir com a redução do surgimento de novos casos no País, o Departamento Científico (DC) de Alergia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou nesta semana um Guia Prático de Atualização com orientações para os pediatras sobre quais medidas são eficazes para a prevenção de doenças alérgicas.
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De acordo com a publicação, estratégias de prevenção primária podem ser administradas em crianças com pelo menos um parente em primeiro grau – pai, mãe ou irmão – com doença alérgica documentada. Crianças identificadas nesse grupo de risco são consideradas mais vulneráveis a reações do sistema imunológico em decorrência de exposição ambiental, microbiana externa e pela própria microbiota humana.
ALERGIA ALIMENTAR – Entre as atuais recomendações para prevenir as alergias alimentares, o texto destaca a importância do consumo de leite materno durante os primeiros seis meses de vida do bebê, devido a sua propriedade de modulação da microbiota intestinal. Na impossibilidade de a mãe amamentar, o recurso mais indicado são as fórmulas infantis parcialmente hidrolisadas.
Segundo o documento, outra estratégia com eficácia comprovada é evitar a introdução da alimentação complementar antes dos quatros meses. A exposição no tempo correto é relevante para o desenvolvimento da chamada tolerância oral.
“A introdução de alimentos sólidos deve ocorrer entre o quarto e sexto mês de vida, de maneira gradativa, para permitir a detecção de reações a ingredientes individuais. A regra é válida mesmo para alimentos considerados altamente alergênicos, os quais nem devem ser evitados e nem precocemente oferecidos”, cita o documento.
ALERGIA RESPIRATÓRIA - Em relação à asma e à rinite, a publicação aponta que poucos estudos mostram evidências importantes. Alguns dos aspectos evidenciados estão relacionados a fatores ambientais e dieta. Os aeroalérgenos mais envolvidos nessa relação são os presentes na poeira doméstica, animais de pelo – como cães e gatos –, baratas e fungos.
O texto informa que, no entanto, o desenvolvimento de alergias respiratórias não está relacionado apenas ao contato com essas substâncias, mas depende também de outros fatores como a predisposição genética e a dose dos alérgenos a que a criança está exposta. “Níveis muito baixos ou muito altos funcionam como protetores e níveis intermediários são causadores da alergia”, destaca o documento.
Benefícios para a prevenção também podem ser encontrados através da ingestão de produtos naturais em detrimento de alimentos processados. Frutas frescas e vitaminas antioxidantes (C e E) são um exemplo de proteção contra a asma, especialmente se consumidas no início da infância. Além disso, a suplementação com probióticos durante a gestação e aleitamento materno são capazes de diminuir o risco de eczema na infância.
DERMATITE ATÓPICA – O texto aborda ainda métodos preventivos para uma das doenças cutâneas inflamatórias mais comuns da infância: a dermatite atópica (DA). O problema está geralmente associado a uma complexa interrelação de fatores genéticos, alterações da barreira cutânea, imunidade inata e adaptativa.
Entres as medidas de proteção recomendadas, destacam-se o consumo de ácidos graxos poliinsaturados (ômega 3) durante a gestação, devido a suas propriedades anti-inflamatórias; uso diário de emoliente para pele, a partir das três primeiras semanas de vida; e utilização de diferentes probióticos no período pré-natal em associação com aleitamento materno.
O documento “Prevenção de Doenças Alérgicas” foi elaborado pelo DC de Alergia da SBP, composto pelos drs. Emanuel C. S. Sarinho (presidente); Herberto José Chong Neto (secretário); Adriana A. Antunes; Antônio Carlos Pastorino; Arnaldo Carlos Porto Neto; Fabio C. Kuschnir; Maria das Graças Nascimento Silva; e Marisa Lages Ribeiro. Além disso, o desenvolvimento do conteúdo contou com a colaboração da presidente da SBP, dra. Luciana Silva; do diretor de Departamentos Científicos, dr. Dirceu Solé; e da dra. Ana Carla Augusto Moura.
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