Há um perigo silencioso para o qual a indústria e os governos mundiais não prestam a devida atenção: não há nenhum lugar ou ecossistema no planeta livre de contaminação por plásticos ou microplásticos (MiP). Para alertar a população sobre esse tema, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em associação à Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) acaba de lançar o documento científico “Impacto dos Microplásticos na Saúde”, com foco em repercussões verificadas entre a população pediátrica.
ACESSE AQUI O DOCUMENTO DA SBP
De acordo com o texto da SBP/ASBAI, o microplástico pode ser definido como qualquer partícula plástica sólida e insolúvel em água, com dimensões entre 0,001 milímetro e um milímetro. Encontrados em diferentes formas (fibras, fragmentos, esferas, grânulos, flocos e espuma), os MiP estão presentes em ambientes internos (residências, escritórios, escolas) e externos (rodovias, praias, rios, mares, etc). Desse modo, torna-se inevitável a exposição a essas partículas, que pode ocorrer por ingestão, inalação ou contato com a pele.
Entre os impactos negativos que essas partículas podem gerar, estão: inflamações, aumento do estresse oxidativo, desequilíbrio da microbiota intestinal, introdução de substâncias tóxicas no organismo e modificação da forma de apresentação de alérgenos e patógenos ao sistema imunológico.
Conforme salienta o presidente da SBP, dr. Clóvis Francisco Constantino, é urgente a necessidade de orientar pacientes e famílias sobre as possíveis estratégias para reduzir a exposição aos microplásticos e outros poluentes ambientais. “Este guia é um importante alerta para todos, sociedades médicas, gestores de políticas públicas e sociedade civil. Devemos agir a partir de hoje para reduzir a exposição à poluição. Manter o meio ambiente mais limpo e saudável é proteger o bem-estar e fortalecer o sistema imunológico de nossas crianças e adolescentes”, frisa ele.
EXPOSIÇÃO - A inalação é uma das formas de exposição ao material particulado liberado por pneus de automóveis, fibras sintéticas de roupas e outras fontes, como superfícies de paredes e móveis. As barreiras epiteliais da pele, do sistema respiratório e do trato gastrointestinal são a primeira linha de defesa física, química e imunológica contra as agressões biológicas e químicas do ambiente externo.
O guia da SBP/ASBAI também reforça que os microplásticos podem atingir a cadeia alimentar. A presença de MiP nas fezes humanas demonstra que esses componentes são, de fato, ingeridos e podem passar pelo trato gastrointestinal. Desse modo, uma vez consumidos, os MiP sofrem transformações.
“Existem várias moléculas dentro do trato gastrointestinal com as quais os MiP podem interagir, como proteínas, lipídios, ácidos nucleicos e outras. Os poluentes químicos podem ser transferidos da mãe para o filho através da amamentação. A exposição específica a bisfenóis e ftalatos durante fases críticas do desenvolvimento de uma criança afeta componentes e funções importantes do sistema imunológico, que podem estar ligados ao desenvolvimento de diferentes doenças, incluindo o câncer. Além disso, os MiP podem ter efeitos em outras patologias, como alergias alimentares e doença inflamatória intestinal”, destaca o documento.
Embora seja uma via menos eficiente, os MiP e nanoplásticos também atravessam a barreira dérmica, sendo esse conhecimento importante sobretudo para pessoas com a pele comprometida por enfermidades cutâneas ou abrasão física. “O tamanho pequeno das partículas e as condições de estresse da pele são fatores críticos que favorecem a penetração. Os MiP modificam as barreiras epiteliais das superfícies cutâneas e mucosas, de modo que essas alterações têm sido associadas, nas últimas décadas, à maior prevalência e gravidade de doenças alérgicas e inflamatórias, como a dermatite atópica”, pontua a publicação.
Os principais polímeros plásticos verificados nas partículas de MiP ou de nanoplástico (maiores de um milímetro) são: poliester (policiclohexilenodimetileno tereftalato - PCT); polipropileno (PP); policloreto de vinila (PVC); poliestireno (PS); teflon; nylon 6.6; polietileno (PE); polietileno tereftalato (PET); resina estireno acrilonitrila (SAN); e poli n-butilmetacrilato (PBMA).
Vale ressaltar ainda que as fontes de informação sobre microplásticos que respaldam os conselhos e recomendações do texto elaborado pelas SBP/ASBAI baseiam-se em uma revisão de mais de 90 artigos, publicados em inglês, português, francês e espanhol na última década.
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