SBP lança recomendações de apoio à saúde mental e vida escolar de crianças e adolescentes vítimas das enchentes no RS

As enchentes recentes no Rio Grande do Sul deixaram consequências profundas, especialmente sobre a saúde mental de crianças e adolescentes. Para orientar pediatras no tratamento dessas vulnerabilidades, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou o documento científico “Promoção da saúde mental de crianças e adolescentes em situações de catástrofe: possibilidades de intervenção”. Este material oferece diretrizes essenciais para o acolhimento eficaz dos jovens afetados.

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De acordo com a publicação, a saúde mental é uma dimensão fundamental da saúde e, por isso, deve ser priorizada, uma vez que as consequências psicológicas de catástrofes ambientais podem evoluir de forma preocupante, se não tratadas adequadamente. “Na maior parte dos casos surgem sintomas psíquicos e sofrimento mental subclínicos, que não chegam a configurar um transtorno mental, mas que ainda assim devem ser identificados e cuidados”, frisa o documento.

Algumas reações iniciais comuns logo após o trauma, explicam os pediatras, são chamadas de reações psicológicas agudas, como choro, angústia, tristeza, medo com relação ao futuro, desesperança, raiva e problemas de sono. Crianças pequenas podem apresentar comportamentos regressivos, retornando a hábitos já abandonados, como chupar o dedo, urinar na cama ou se manterem agarradas aos pais. Já os adolescentes podem manifestar seu sofrimento por meio de irritabilidade, agitação, problemas de conduta e utilização de drogas psicoativas.

SUPERAÇÃO – Em desastres como o do Rio Grande do Sul, é indispensável avaliar a resiliência nos níveis individual, familiar e comunitário, determinando fatores de risco e de proteção para agravos à saúde mental. “Na avaliação de crianças e adolescentes submetidos a desastres deve-se investigar as habilidades cognitivas, a capacidade de regulação emocional, os vínculos familiares e o grau de engajamento acadêmico antes da situação catastrófica. Maior capacidade cognitiva, boa relação com pelo menos um cuidador primário, capacidade de regular emoções e bom desempenho escolar minimizam os impactos do trauma”, destaca o texto.

O documento lista ainda uma série de estratégias para redução do impacto de catástrofes na saúde mental, entre elas:

  • Crianças, adolescentes e famílias em situação de desastre devem ser acolhidos em abrigos de preferência próximos de sua região de moradia, oferecendo-se boa infraestrutura física e operacional. A garantia das necessidades básicas minimiza os efeitos psicológicos traumáticos dos desastres e reduz a possibilidade de novos traumas;
  • Deve-se garantir que as famílias permaneçam unidas;
  • É fundamental retornar às condições próximas à vida normal o quanto antes, mesmo em situações de abrigamento. Crianças devem ter acesso a espaços de brincar e as atividades pedagógicas devem ser retomadas, com a organização de escolas ainda nos abrigos, caso não haja possibilidade de retorno às unidades educacionais da região;
  • Crianças desacompanhadas de seus pais devem receber atenção especial da equipe;
  • Crianças e adolescentes que apresentem sinais de sofrimento psíquico devem ser encaminhados a profissionais de saúde para receber os cuidados necessários.

VOLTA ÀS AULAS – Além disso, com a retomada das atividades escolares na região, a SBP reconhece a necessidade de uma atenção redobrada à saúde mental dentro do ambiente educacional. Por isso, também foi divulgado nesta semana o documento “Volta às aulas após as enchentes no Rio Grande do Sul”, para preparar as escolas e professores a identificar e lidar com sinais de angústia, medo e estresse que podem surgir em alunos. O guia enfatiza a importância de intervenções sensíveis no retorno à rotina escolar, garantindo um suporte adequado para a recuperação emocional dos estudantes.

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A publicação aborda ainda o risco de transmissão de doenças ocasionadas pelo convívio diário em ambientes coletivos (abrigos escolares), assim como aquelas causadas pelo contato prolongado com as águas contaminadas. Outra preocupação está relacionada às doenças que têm em comum a transmissão por meio do mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya. Um ponto importante também será a busca ativa dos alunos que não retornarem para sua unidade escolar.

Para a SBP, a reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes exigirá esforços contínuos nos próximos anos. Nesse cenário, os pediatras desempenham um importante papel no cuidado à saúde física e mental das vítimas, necessitando de qualificação para minimizar os impactos negativos dos possíveis traumas em crianças e adolescentes. “As equipes dos abrigos e os profissionais de saúde, de educação e voluntários que prestam assistência às vítimas devem ser qualificados para acolher as demandas de saúde dessa população, por meio de treinamentos específicos com profissionais da área e supervisões”, orienta a entidade.