SBP orienta pediatras sobre como prevenir o câncer no adulto desde a infância

O Departamento Científico de Oncologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou recentemente o documento científico “Como prevenir na infância o câncer do adulto”. No texto, são abordados a origem do câncer e estudos acerca dos fatores envolvidos no desenvolvimento da doença – tais como tabagismo, obesidade e exposição à radiação, por exemplo – assim como alterações genéticas frente às quais o pediatra pode atuar para prevenção da enfermidade.

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Na publicação, os especialistas abordam atitudes comportamentais que podem influir na redução da predisposição genética, como os fatores ambientais que induzem o desencadeamento de câncer, além de reforçar o papel do pediatra na orientação dos pais, crianças e adolescentes sobre a necessidade de estimular hábitos saudáveis, visando a redução do risco da doença na idade adulta.

Dentre os fatores citados estão o tabagismo, que é considerado o maior fator de risco evitável de adoecimento e morte no mundo. Somente o tabaco é responsável por cerca de 30% das mortes por câncer, sendo o de pulmão o principal, além de outros tipos de neoplasias como o da cavidade oral, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero e leucemias. Estudos apontam que 90% dos adultos fumantes iniciaram este hábito antes dos 18 anos de idade.

Outro fator mencionado é a obesidade e o sobrepeso. De acordo com o documento, a obesidade na criança também pode estar associada ao aumento do risco para vários tipos de câncer na idade adulta, tais como o de esôfago, tireoide, vesícula, mama, cólon e renal. Nos últimos vinte anos, a obesidade foi apontada como causa de aproximadamente 14% das mortes por câncer em homens e mais de 20% nas mulheres.

Além destes, o texto levantam ainda outros possíveis fatores para o desenvolvimento da doença, como a dieta, em virtude do questionamento da inflamação crônica; a exposição à radiação ionizante como resultado do uso das tomografias computadorizadas; a exposição à radiação ultravioleta, que é o principal fator de risco para os carcinomas de pele e está associado primordialmente à exposição solar; e as infecções, pois alguns vírus são responsáveis pela ocorrência de câncer no adulto, como o Papiloma Vírus Humano (HPV) na indução do câncer de colo de útero, pênis e de orofaringe, e o vírus da hepatite B na indução do hepatocarcinoma.

“Os pediatras são de suma importância para aconselhar os pais, familiares, crianças e adolescentes sobre os temas. No que diz respeito à HPV e à Hepatite B é de extrema importância que os profissionais promovam a vacinação para estas doenças e conversem também com avós, por exemplo, que são relevantes formadores de opinião no contexto familiar”, afirmam os oncologistas pediátricos da SBP.

ORIENTAÇÕES – Segundo o documento, o câncer surge a partir da proliferação celular descontrolada de uma única célula de origem clonal, sendo resultado do acúmulo de alterações genética ou epigenética. Além disso, reforça que no câncer da criança os fatores etiológicos ambientais desencadeantes não são conhecidos, ao contrário do que ocorre no câncer do adulto, visto que, alguns fatores precipitantes são bem divulgados.

“Esses fatores são chamados de fatores de risco carcinogênicos e evitá-los representa a base da prevenção primária. Em geral, o desencadeamento do câncer é o resultado da interação desses fatores com a susceptibilidade genética, fator que torna o indivíduo mais resistente ou sensível à exposição ambiental ou ainda a substratos endógenos”, explicam os especialistas.

No final, o texto aborda também sobre as alterações genéticas frente às quais o pediatra pode atuar para a prevenção do câncer e as orientações gerais para que os profissionais estejam dialogando constantemente com as famílias sobre uma boa higiene oral, a educação sexual, além do cumprimento rigoroso do calendário de vacinação. Entre as alterações citadas estão a criptorquidia – que atinge até 3% dos meninos e é detectada principalmente em prematuros – , as síndromes de polipose intestinal familiar e as carcinoma medular de tireoide.

O DC de Oncologia da SBP é composto pelos drs. Denise Bousfield da Silva (presidente), José Henrique Silva Barreto (secretário), José Carlos Martin Cordoba, Luiz Gonzaga Tone, Mara Albonei Dudeque Pianovski, Mariana Bohns Michalowski, Sidnei Epelman, Sima Esther Ferman.