O secretário geral da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr Sidnei Ferreira, representou a entidade em reunião com o deputado federal Luiz Henrique Mandetta, indicado para ocupar o cargo de ministro da Saúde no Governo de Jair Bolsonaro, a partir de janeiro do ano que vem. No encontro, realizado na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), na quarta-feira (19), o futuro gestor apresentou algumas de suas propostas e acolheu manifestações de mais de 80 lideranças de entidades médicas nacionais.
Foram mais de três horas de debates. Na oportunidade, dr Sidnei Ferreira, em nome dos 37 mil pediatras, manifestou a confiança de êxito no trabalho que será realizado e já formalizou pedido de audiência, no gabinete ministerial, para detalhar as preocupações e as propostas da SBP para a área da saúde.
“Falei em nome da Presidente, destacando a atuação da nossa SBP, dos nossos Departamentos Científicos e da nossas filiadas. Ficou evidente que estamos prontos para a discussão e o trabalho em prol das crianças e dos adolescentes, das famílias e dos pediatras”, relatou.
Junto com o pedido de audiência, em nome da presidente da SBP, dra Luciana Rodrigues Silva, foi entregue ao futuro ministro uma pauta de reinvindicações da pediatria para ser implementada em várias áreas. Segundo dr Sidnei Ferreira, há pontos importantes a serem analisados, como a atualização de listas de procedimentos na Tabela SUS, a realização de campanhas de prevenção de doenças, a incorporação de novas tecnologias da rede pública e o maior controle em programas de pós-graduação.
Também devem ser discutidos aspectos relacionados à presença dos pediatras nas salas de parto, obrigatoriedade de consultas pediátricas durante o pré-natal, cobertura vacinal, incentivo ao aleitamento materno e oferta de maior infraestrutura para atendimento dos pacientes, como aumento da oferta de leitos para internação e de UTI. Uma reivindicação que não será esquecida, segundo dr Sidnei, é a valorização do pediatra, o único especialista com preparação para atender a população pediátrica, até os 19 anos.
DIÁLOGO - Diante do auditório lotado, o 1º vice-presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, afirmou que esse foi “o primeiro de vários outros encontros durante os quais poderemos discutir o funcionamento da saúde no País”. Na sequência, Luiz Henrique Mandetta confirmou que o Ministério da Saúde quer retomar o diálogo com as entidades médicas e contar com seu apoio para enfrentar problemas como o baixo financiamento da saúde, a fixação de médicos em áreas de difícil provimento, a abertura desenfreada de escolas médicas e as falhas em processos administrativos.
“O desafio da Saúde brasileira é enorme. Não se faz saúde só com médicos, mas não se pode ter um Ministério da Saúde sem a presença maciça destes profissionais. Simbolizo, aqui, o fim dessa ruptura política”, disse Mandetta. No entanto, de acordo com ele, “é fundamental que as entidades estejam preparadas para não serem apenas homologadoras, mas protagonistas de decisões”.
SECRETARIAS - Antecipando algumas das medidas que pretende implementar após sua posse, em janeiro, o futuro ministro revelou que a Secretaria de Assistência em Saúde (SAS) deve ser dividida, no mínimo, em duas estruturas: uma específica para a atenção básica e outra para cuidar da média e alta complexidade. Mandetta ainda avalia a possibilidade de ter uma área terceira, voltada apenas para as urgências e emergências. Também apresentou às lideranças médicas outra meta: a informatização do SUS.
No caso da secretaria especializada na atenção básica, Luiz Mandetta descatou que espera contar com a participação intensa de especialidades que atuam nesse nível de complexidade. A pediatria foi citada como um exemplo de possíveis que poderão ser estabelecidas.
Com respeito ao Mais Médicos, o ministro indicado revelou ter expectativa de que o programa será mantido apenas com a participação de profissionais brasileiros e que serão tomadas medidas para acabar com o que chamou de distorções. “Constatamos que cidades como Ponta Grossa (PR), que tem até faculdade de Medicina, tinha 56 médicos cubanos; Fortaleza (CE) tinha quase 200 cubanos; e Brasília (DF), que tem a maior relação de médicos por habitantes do Brasil, foi a primeira a receber os cubanos. Esse não deve ser o intuito da iniciativa”.
CARREIRA - No que se refere à valorização dos profissionais, Luiz Mandetta anunciou que trabalhará pela criação de uma Carreira de Estado para os médicos no Sistema Único de Saúde (SUS). Ele considera que há um terreno favorável à proposta. “Temos um Presidente da República que inseriu o tema em sua plataforma de campanha. Vamos, juntos, trabalhar em uma proposta e levar medicina de qualidade para atender o Brasil profundo”.
Finalmente, o futuro ministro assegurou que a qualificação da graduação e da residência médica serão desafios em sua gestão. “Precisamos repensar sobre o profissional que queremos colocar no mercado. Hoje temos 31 mil egressos por ano. Em pouco mais de uma década chegaremos a um milhão de médicos. Precisamos entender essa expansão abrupta de escolas, fiscalizar melhor e propor uma avaliação dos ciclos básico e profissional”.
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