Por Denise Bousfield – presidente do Departamento Científico de Oncologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
No Brasil, segundo Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se para o biênio 2018-2019 a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer para cada ano. Excetuando-se o câncer de pele não melanoma (cerca de 170 mil casos novos), ocorrerão 420 mil casos novos de câncer. O cálculo global corrigido para o sub-registro, segundo Mathers et al., demonstra a ocorrência de 640 mil casos novos de câncer ao ano.
O câncer infantojuvenil (entre 0 e 19 anos), na maioria das populações, corresponde a 1-4% de todos os tumores malignos. Nos países em desenvolvimento, onde a população de crianças chega a 50%, a proporção do câncer infantil representa de 3% a 10% do total de neoplasias. Nos países desenvolvidos essa proporção diminui, chegando a cerca de 1%. No Brasil, o percentual mediano de neoplasias observados nos Registros de Câncer da Base Populacional (RCBP) na população infantojuvenil foi de 3%. Assim, foi estimado pelo INCA a ocorrência de cerca de 12.500 casos novos de câncer infantojuvenil a cada ano.
O câncer infantojuvenil consiste em um conjunto de doenças que apresentam características próprias em relação ao tipo histológico e ao comportamento clínico. A maioria dos tumores pediátricos apresenta achados histológicos que se assemelham aos tecidos fetais nos diferentes estágioss de desenvolvimento, sendo considerados embrionários. Essa semelhança às estruturas embrionárias gera grande diversidade morfológica resultante das constantes transformações celulares, determinando grau variado de diferenciação celular.
Diferentemente do adulto, o câncer infantojuvenil geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. Por serem predominantemente de natureza embrionária, os tumores na criança e no adolescente são constituídos de células indiferenciadas, o que, geralmente, proporciona melhor resposta aos tratamentos atuais.
Entre os tipos de câncer infantojuvenil, os mais frequentes são as leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas.
No Brasil, em 2014, segundo o INCA, ocorreram 2.724 óbitos por câncer em crianças e adolescentes. As neoplasias ocuparam a segunda posição (7%) de óbitos de crianças e adolescentes (de 1 a 19 anos) em 2014, ultrapassadas somente pelos óbitos por causas externas.
Neste contexto, é fundamental a avaliação da incidência, da mortalidade e da morbidade hospitalar para identificar o perfil epidemiológico do câncer e para efetiva vigilância pela utilização dessas informações, objetivando que se transformem em ações efetivas para o controle do câncer nas crianças e nos adolescentes.
Atualmente se reconhece que o aparecimento do câncer está diretamente vinculado a uma multiplicidade de causas e que em alguns tipos de câncer a susceptibilidade genética tem papel relevante.
Diferentemente de muitos cânceres de adultos, até o momento, não há evidências científicas que identifiquem associação entre a doença na criança e os fatores de risco ambientais. Eventualmente, a criança pode apresentar alterações genéticas que as tornem propensas a ter um determinado tipo de câncer.
No que se refere ao diagnóstico, é importante que o câncer seja detectado em estádios mais localizados, visando redução considerável das complicações agudas e tardias do tratamento, além da contribuição para maior percentagem de cura. Assim, a taxa de sobrevida, a qualidade de vida, bem como a relação efetividade/custo da doença é maior quanto mais precoce for o diagnóstico do câncer.
No Brasil, baseado nos dados dos registros de câncer atualmente consolidados, infelizmente observa-se que muitos pacientes ainda são encaminhados aos centros de tratamento com a doença em estádio avançado.
O mês de SETEMBRO foi escolhido para intensificar a conscientização sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil, representado mundialmente pelo símbolo do LAÇO DOURADO.
O câncer infantojuvenil, na maioria das vezes, se apresenta com sinais e sintomas inespecíficos, semelhantes a outras doenças comuns da infância. Neste sentido, é importante que os pais/responsáveis realizem consultas regulares com o pediatra para seus filhos/filhas, visando o diagnóstico precoce da doença, e permitindo assim, melhor chance de cura, de sobrevida e de qualidade de vida para o paciente/família.
O tratamento do câncer infantojuvenil deve ser realizado em centro especializado em oncologia pediátrica, por equipe multiprofissional e individualizada para cada tipo histológico específico e de acordo com a extensão clínica da doença (estadiamento).
Dados de um estudo sobre o panorama do câncer infantojuvenil divulgados pelo INCA e pelo Ministério da Saúde (MS) identificaram que a sobrevida estimada no Brasil por câncer na faixa etária entre zero e 19 anos é de 64%.
Considerando que na infância e na adolescência ocorrem mudanças, não apenas biológicas, mas também psicológicas, que podem ser modificadas de forma favorável ou desfavorável ao desenvolvimento de doenças, a aquisição de hábitos de vida saudáveis nesta fase é vista, hoje, como a estratégia preventiva que pode ajudar os indivíduos a se manterem por mais tempo saudáveis, evitando o câncer e outras doenças crônicas na idade adulta. Portanto, é imprescindível nas primeiras décadas de vida difundir o conhecimento sobre os efeitos dos fatores de risco na expectativa média de vida da população, além de desenvolver estratégias preventivas que envolvam diversos setores da sociedade, visando à mudança de modos de vida baseada em evidências.
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