Tratamento de crianças com câncer não deve ser interrompido durante a pandemia, alerta especialista

Crianças e adolescentes com câncer não devem ter o tratamento interrompido durante a pandemia do novo coronavírus. O alerta é do pediatra e oncologista pediátrico José Henrique Barreto, coordenador Científico da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape) e secretário do Departamento de Oncologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Não interrompa ou altere, sob nenhuma hipótese, o tratamento oncológico de seu filho. Converse com o médico que o acompanha sobre a melhor forma de continuar realizando o tratamento sem correr riscos”, orienta.

A exceção, segundo ele, se aplica a pacientes em tratamento radioterápico que foram diagnosticados com Covid-19. “Neste caso, é preciso, juntamente com seu médico, avaliar a possibilidade de interrupção temporária do tratamento analisando os riscos oncológicos desta decisão”, pontua o pediatra José Henrique Barreto, ao considerar um parecer da Sociedade Brasileira de Radioterapia.

Se não for possível suspender provisoriamente, o tratamento deve seguir um esquema especial, feito separadamente e com a equipe devidamente paramentada, mantendo o paciente com máscara cirúrgica durante o procedimento e substituindo-a a cada quatro horas ou quando estiver úmida ou com algum tipo de dano.

“É fundamental ainda que a máscara seja retirada adequadamente, pelo elástico, sem colocar a mão na frente da proteção. Além de utilizar a máscara, as pessoas devem lavar as mãos com água e sabão ou higienizar com álcool em gel, evitar colocar as mãos nos olhos, nariz e boca, ou seja, tomar todas as precauções necessárias para não proliferar a doença”, reitera José Henrique Barreto, que é autor de um manual de perguntas e respostas sobre o assunto.

DOCUMENTO - O conteúdo recebeu contribuições das pediatras e oncologistas pediátricas Denise Bousfield (Santa Catarina) e Mara Pianovski (Paraná), presidente e integrante, respectivamente, do Departamento de Oncologia da SBP, e está disponível para acesso gratuito no site Pediatria para Famílias.

Quanto às sessões de quimioterapia, o oncologista pediátrico afirma que podem ser mantidas, mas os pacientes que apresentarem sintomas sugestivos de infecção pelo coronavírus, como febre, coriza, tosse seca e falta de ar, precisam entrar em contato imediato com o médico ou procurar um serviço de saúde.

José Henrique explica também que não existem dados, até o momento, sobre a implicação da imunoterapia em pacientes que se infectam com o novo coronavírus. Ele salienta que, entre os pacientes com câncer, os que têm maior risco de desenvolver a forma grave da Covid-19 são aqueles com neoplasias hematológicas (leucemias e linfomas); os que passaram por transplante de medula óssea e aqueles em tratamento com quimioterapia.

VISITAS - Ao reforçar as medidas de isolamento social e cuidados sanitários, como evitar aglomerações, higienizar regularmente as mãos com álcool em gel a 70% ou lavar com água e sabão, o oncologista também desaconselha receber visitas de parentes e amigos nesse período. No caso de pacientes internados, as visitas hospitalares devem se restringir àquelas estritamente necessárias, sendo indicado apenas um acompanhante por período.

“Crianças e jovens em tratamento contra o câncer têm o sistema imunológico comprometido, o que torna mais difícil o organismo combater infecções, inclusive a causada pelo coronavírus. Uma gripe pode não causar danos a uma pessoa comum, mas pode debilitar muito e até causar sérias complicações a um paciente em tratamento de câncer”, explica José Henrique Barreto, que também é 2° vice-presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).