A Região Nordeste do Brasil é a que concentra o maior número de recém-nascidos (RN) que morrem com menos de uma semana de vida, e o Piauí é o estado com maior número de mortalidade neonatal. Para evitar mais mortes, em julho de 2019 foi iniciado na cidade de Floriano, a 240 quilômetros da capital, um treinamento gratuito do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria (PRN-SBP), que se estendeu ainda por outras cidades no sul do estado: Corrente, Bom Jesus, Uruçuí e São Raimundo Nonato, e entre profissionais que atuam no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
O treinamento fez parte de um estudo sobre mortalidade neonatal precoce na mesorregião sudoeste do Piauí. A pesquisa mostrou que a mortalidade neonatal representa cerca de 70% da mortalidade infantil no Brasil, sendo que a Região Nordeste lidera os números. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2011 o Piauí era o terceiro estado do País com a maior taxa de mortalidade neonatal precoce.
Os dados chamaram a atenção do médico pediatra e pesquisador Dr. Renato Oliveira de Lima, que realizou um estudo juntamente com a SBP no interior do estado do Piauí. As constatações constam agora de sua tese de doutorado em Saúde Pública pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), intitulada “Análise do Impacto do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria nos Resultados Neonatais na Mesorregião Sudoeste Piauiense”.
A defesa aconteceu no dia 6 de agosto sob orientação do dr. Sérgio Marba, Professor titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) e um dos Assessores de Políticas Públicas da SBP.
Os dados da pesquisa mostraram que os treinamentos do PRN-SBP melhoraram a assistência aos recém-nascidos no interior do Piaui. “O estudo foi importante para mostrar que, mesmo em regiões distantes dos grandes centros, o PRN/SBP pode mudar a realidade do local com benefícios diretos à sobrevida e qualidade de vida do recém-nascido (RN). Mostra a força do Programa e sua capilarização no interior do País”, disse o dr. Sérgio Marba em entrevista ao SBP Notícias.
Segundo ele, ao comprovar uma significativa melhora dos resultados neonatais, o projeto poderá servir de modelo para implantação em outras regiões do País, cujos índices de mortalidade neonatal são elevados.
Confira a íntegra da entrevista:
SBP em Ação – Qual o objetivo deste estudo? Por que ele é importante?
Dr. Sérgio Marba – O objetivo foi analisar o impacto do PRN-SBP nos resultados neonatais, considerando a estruturação e manutenção dos materiais necessários a reanimação neonatal; a retenção de conhecimentos dos médicos e profissionais de saúde treinados; a capacidade de formar novos instrutores do Programa; e os índices de transporte inter-hospitalar de alto risco e a mortalidade neonatal nos locais de nascimento da Mesorregião Sudoeste do Piauí. O estudo foi importante para mostrar que, mesmo em regiões distantes dos grandes centros, o PRN/SBP pode mudar a realidade do local com benefícios diretos à sobrevida e qualidade de vida do recém-nascido (RN). Mostra a força do Programa e sua capilarização no interior do País.
SBP em Ação – Quais as conclusões do autor acerca dos resultados da mortalidade neonatal na Mesorregião Sudoeste do Piauí?
Dr. Sérgio Marba – Foi registrada uma redução de 72,6% de mortes em locais de nascimento na Mesorregião Sudoeste do Piauí, considerando-se a avalição dos registros de óbitos antes da intervenção e um ano após as capacitações nos moldes do PRN/SBP.
SBP em Ação – Quais reflexos o estudo trará no que tange a mortalidade neonatal no Piauí?
Dr. Sérgio Marba – Além da redução da mortalidade nos locais de nascimento citada acima, foi registrado um aumento em 28,9% de admissões de RN em unidades de terapia intensiva neonatal nos hospitais de referência estadual. Foi registrada no período de 12 meses que sucedeu a intervenção a reanimação de 479 RN, dos quais 414 (86,43%) foram maiores ou iguais a 34 semanas e 65 (13,57%) foram prematuros menores de 34 semanas. Esses dados podem mudar a mortalidade neonatal dessa região. É preciso lembrar que essa redução da mortalidade nos locais de nascimento representa apenas um dos pilares de um conjunto de ações que visam a redução da mortalidade infantil. Os países com os melhores resultados perinatais reúnem características tais como cuidado centrado na mulher e na família, atuação efetiva no pré-natal, adequação das necessidades locais em termos de leitos neonatais e capacidade instalada, continuidade do cuidado na perspectiva do parto, nascimento e período neonatal, além de um processo de regionalização e hierarquização da atenção levando-se em conta a referência, a contra referência e o transporte neonatal.
SBP em Ação – Quais os principais resultados encontrados e como estes resultados poderão ser úteis para a redução da mortalidade neonatal no Piauí?
Dr. Sérgio Marba – Outro resultado interessante foi a mudança na estrutura dos locais de nascimento e manutenção dos materiais e equipamentos ao longo de um ano de pós-capacitação dos profissionais de saúde. Um marco nessa observação foi a instituição da prática de que a mesa com os materiais da reanimação fosse forrada com uma toalha amarelo-ouro, simbolizando a garantia de uma adequada transição da vida intrauterina à vida extrauterina nos primeiros 60 segundos de vida, ou seja, a garantia do chamado “Minuto de Ouro”. Também foi observada a retenção do conhecimento muito positiva entre os participantes e o estímulo à formação de novos instrutores do PRN/SBP na região.
SBP em Ação – Esses dados também servirão de base e poderão ser aplicados para outras regiões brasileiras?
Dr. Sérgio Marba – Este projeto, implantado em região remota do estado do Piauí, ao comprovar uma significativa melhora dos resultados neonatais, poderá servir de modelo para implantação em outras regiões do Brasil, cujos índices de mortalidade neonatal são elevados. Importante ressaltar que esse estudo comprova a eficiência da atuação dos instrutores do PRN-SBP ao disseminar conhecimentos para a melhor prática à assistência ao RN, podendo ainda contribuir diretamente para a organização estrutural dos serviços de maternidades brasileiras. Este tipo de ação poderá, em um futuro próximo, reverter os atuais coeficientes de mortalidade neonatal observados em nosso meio com a implantação de modelos que visem a melhoria dos resultados neonatais do nosso País.
SBP em Ação – Alguma consideração final que o senhor gostaria de pontuar?
Dr. Sérgio Marba – Gostaria de agradecer imensamente à Presidência da SBP, Professora Dra. Luciana Rodrigues Silva e às Coordenadoras do PRN/SBP Professoras Dras. Maria Fernanda Branco de Almeida e Ruth Guinsburg pelo apoio incondicional ao trabalho e por acreditarem que ele poderia ter sido realizado, bem como a todos que direta ou indiretamente participaram do projeto. Parabenizar o Dr. Renato Oliveira de Lima, que atuou diretamente no trabalho e representa os mais de 1.000 instrutores de reanimação que já capacitaram mais de 110.000 médicos e profissionais de saúde no País desde a sua implantação.
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