Um cardápio melhor para a escola

 Monica WeinbergFotos e montagem sobre fotos de Pedro Rubens, Germano Luders e Sean Justice/Corbis/Latinstock Uma nova pesquisa resultou num ranking dos alimentos mais consumidos pelas crianças brasileiras na hora do lanche. Conclusão: eles não primam pelo alto valor nutricional. Ao contrário.   O levantamento, que envolveu uma detalhada investigação da lancheira de 800 estudantes do ensino …


 Monica WeinbergFotos e montagem sobre fotos de Pedro Rubens, Germano Luders e Sean Justice/Corbis/Latinstock

Uma nova pesquisa resultou num ranking dos alimentos mais consumidos pelas crianças brasileiras na hora do lanche. Conclusão: eles não primam pelo alto valor nutricional. Ao contrário.   O levantamento, que envolveu uma detalhada investigação da lancheira de 800 estudantes do ensino fundamental em escolas particulares, revelou excesso de gorduras e açúcar – e falta de vitaminas, fibras e sais minerais. As nutricionistas Eliana Zacarelli e Hellen Coelho, da Universidade de São Paulo, conduziram o estudo. Elas avaliaram cada um dos alimentos trazidos pelas crianças às escolas. Para se ter uma idéia, o campeão da lista, a bisnaguinha, tem o dobro de gorduras de um pão de forma comum. Com base em vários desses cálculos, as especialistas sugerem “trocas realistas” (leia-se: um tipo de pão por outro – e não por chuchu ou acelga). Isso pode ajudar a melhorar hábitos alimentares – e a deixar as crianças longe da faixa do sobrepeso, caso de 10% delas no Brasil. A seguir, os comentários.

Lailson Santos

Um esforço para melhorar o menu

O estudante paulista Leonardo Carvalho, 10 anos, é uma exceção entre os colegas: enquanto os amigos enchem a lancheira com salgadinhos, ele traz maçã e, às vezes, até suco natural. “Claro que gosto de salgadinho e refrigerante. Mas comer frutas não é um sacrifício”


Bisnaguinha

Consumo diário, segundo a pesquisa: três pães
Calorias (em kcal)*: 150
Comentário: contém o dobro de gorduras de um pão de forma tradicional – pesando 30% menos. Resultado: as crianças comem, em média, pelo menos três delas num lanche. Além disso, faltam-lhe fibras – úteis na digestão e na prevenção do colesterol ruim (HDL). Os estudos apontam uma deficiência delas na dieta das crianças
Troca sugerida: pão de forma integral, melhor ainda se for enriquecido com grãos. De todos, é o que tem a maior concentração de fibras – mais que o triplo da bisnaguinha –, com 25% menos gordura


 

Queijo mussarela

Consumo diário, segundo a pesquisa: uma fatia
Calorias (em kcal): 50
Comentário: o valor nutricional dos queijos varia muito pouco. O que os distingue é, basicamente, a concentração de gordura. Nesse quesito, a mussarela aparece entre os piores, com 72% de gorduraTroca sugerida: o queijo-de-minas fresco light, justamente por ser um dos menos gordurosos. Tem 70% menos gordura por fatia do que a mussarela


Biscoito recheado de chocolate

Consumo diário, segundo a pesquisa: três biscoitos
Calorias (em kcal): 140
Comentário: a presença de gordura trans é o que chama mais atenção no rótulo. Em três biscoitos, há quase o dobro do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece como limite diário para uma criança. O mesmo ocorre em relação ao açúcar. Na porção consumida estão 40% do total recomendado. Sim, ainda restam vitaminas e minerais – mas em porções irrelevantes. Para obter o suprimento de cálcio ideal, por exemplo, seria necessário comer algo como quarenta biscoitos num dia
Troca sugerida: biscoitos sem recheio, porque é nele que está concentrada a gordura trans, usada para conferir cremosidade. Os de massa seca (leia-se: maisena, aveia, leite) são ainda menos gordurosos .


Suco de frutas artificial

Consumo diário, segundo a pesquisa: 200 ml
Calorias (em kcal): 100
Comentário: com uma caixinha, as crianças consomem em torno de quatro colheres de sopa de açúcar – um exagero. Na comparação com um suco natural, os artificiais não têm mais do que 20% dos nutrientes. Isso se eles preservarem a polpa da fruta
Troca sugerida: só há um jeito de fugir do excesso de açúcar e da escassez de vitaminas – optar por sucos naturais


Bolo industrializado

Consumo diário, segundo a pesquisa: uma fatia pequena ou uma unidade
Calorias (em kcal): 240
Comentário: alguns desses bolos chegam a ter (por fatia ou unidade) quatro vezes mais gordura do que o limite diário estabelecido pela OMS. Não se ganha nada ao escolher os de sabor de fruta. Ao contrário. Para que o extrato dela se torne um creme, é preciso adicionar doses extras de gordura
Troca sugerida: o bolo caseiro sem recheio. A diferença fundamental está no corte de gorduras. Elas são, em média, 20% menos do que nas versões industrializadas


Leite achocolatadoConsumo diário, segundo a pesquisa: 200 mlCalorias (em kcal): 180

Comentário: o achocolatado pronto não equivale a um copo da mesma bebida preparada em casa. Isso porque a versão industrializada exagera no chocolate: daí ter 70% mais gordura e 40% mais açúcar. Nos dois casos, a bebida fornece cerca de um terço das necessidades diárias de cálcio
Troca sugerida: a versão caseira, porque permite moderar a quantidade do pó de chocolate e do açúcar acrescentados ao leite


Bebida de soja
Consumo diário, segundo a pesquisa:caixinha de 200 ml
Calorias (em kcal): 80
Comentário: é um erro comum pensar que as bebidas à base de soja substituem o leite. Elas fornecem menos aminoácidos essenciais para o funcionamento do organismo e ainda 91% menos cálcio. Algumas são até enriquecidas com o mineral, mas mesmo essas têm um problema: o tipo de fibra presente na soja impede a absorção de 70% do cálcio adicionado
Troca sugerida: o leite comum semidesnatado. A lactose, afinal, ajuda na absorção do cálcio

* valores médios

Crianças com quilos extras

Os números mostram que, no Brasil, o problema começa cedo

• 15% da população acima do peso no país é de crianças

• Cerca de 3 milhões delas sofrem de obesidade antes dos 10 anos

• A Região Sudeste é a que concentra mais crianças obesas. São 12% de toda a população entre 7 e 12 anos

Fontes: IBGE e Sociedade Brasileira de Endocrinologia

Rungroj Yongrit/Corbis/Latinstock

Especialistas consultados: as nutricionistas Elisabetta Recine (da Universidade de Brasília) e Michele Caetano (da Universidade Federal

Paulista) e a pediatra Roseli Sarni (da Sociedade Brasileira de Pediatria)

 

Com reportagem de Camilla Costa