A "Saúde de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade" foi o tema central do V Fórum de Pediatria do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizado na quinta-feira (10), durante o 39º Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP), em Porto Alegre (RS). O evento, que contou com a coordenação do secretário-geral da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dr. Sidnei Ferreira, abordou no período da tarde aspectos da assistência à população pediátrica venezuelana refugiada no Brasil e àquelas submetida a medidas socioeducativas.
Para o dr. Sidnei Ferreira, é fundamental que sejam preservados os direitos garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).Segundo ele, o Poder Público precisa investir em medidas de fortalecimento da educação, em seus diferentes níveis, como um dos principais caminhos para igualar as oportunidades e promover a redução da desigualdade social no País.
"Se a lei fosse cumprida conforme está descrita em cada artigo do ECA, nossos problemas sociais estariam resolvidos. No geral, as infrações cometidas por crianças e adolescentes no Brasil decorrem desse perverso sistema de pobreza e vulnerabilidade, que marca nossa sociedade desde a sua fundação. A luta da SBP e dos pediatras brasileiros seguirá no caminho da promoção de direitos e contra os retrocessos", afirmou.
REFUGIADOS – Os debates também deram foco à situação enfrentada pelos refugiados venezuelanos em Roraima, especialmente a de gestantes, crianças e adolescentes. A presidente da Sociedade Roraimense de Pediatria (SRP), dra. Adelma Figueiredo, apresentou dados sobre o crítico estado nutricional e vacinal dessa população, no intuito de chamar atenção a realidade vivenciada por aproximadamente 3.600 crianças menores de cinco anos de idade e que estão em abrigos improvisados.
Conforme explicou, o principal problema encontrado é a desnutrição crônica, aquela que perdura por longo período e, além de afetar o peso, interfere também na estatura. Segundo a especialista, quanto mais cedo ocorrer o problema - especialmente antes dos primeiros dois anos de vida - maior o impacto no crescimento, com repercussões inclusive no potencial cognitivo.
Já as pediatras da SRP, dras. Cristina Albuquerque, Cristiane Greca de Born e Mareny Damasceno de Sousa, fizeram apontamentos sobre a dificuldade estrutural que o Estado de Roraima tem encontrado no enfrentamento aos diversos problemas de assistência. Durante a sessão de perguntas, aberta à participação da plateia, a residente de Pediatra, dra. Thamyres Morato, que veio de Boa Vista (RR) com outras dez estudantes do programa de residência em Pediatria da Universidade Federal de Roraima (UFRR), relatou alguns episódios comoventes vivenciados pelo grupo no dia a dia de atendimento às crianças refugiadas no Hospital da Criança Santo Antônio e no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazaré.
"Em determinados plantões, cada dupla de residente chega a acompanhar até 100 pacientes. É uma situação de calamidade humanitária, extremamente grave. É preciso que todo o Brasil tome conhecimento da amplitude desse cenário e que essas dores não fiquem invisíveis. Como pediatra residente, eu parabenizo a SBP e o CFM, por abrirem espaço para discutirmos o tema dentro do maior evento da especialidade no País", disse.
SEGURANÇA DO PACIENTE - Também no período da tarde, aconteceu ainda a mesa-redonda "Núcleo de segurança do paciente pediátrico", coordenada pelo vice-presidente do CFM, dr. Donizetti Giamberardino Filho. Na ocasião, ele enfatizou a relevância da troca de experiência para que os médicos possam reduzir os eventos adversos. "Além disso, para atuar da forma mais segura possível, dentro dos parâmetros, é preciso que os especialistas tenham as condições necessárias para exercer a sua função", afirmou.
As pediatras dra. Maria Dolabela Magalhães e Daniela Bernadina conduziram, respectivamentem as palestras "Planejamento e protocolos clínicos trazem resultados?" e "Ciência da melhoria em pediatria", abordando métodos para aprimorar a qualidade dos processos de atendimento das equipes de assistência pediátrica. Já o gerente de processos assistenciais de segurança do paciente do Hospital Pequeno Príncipe, dr. Leonardo Cavadas, apresentou o tema "Conversas difíceis com pacientes que sofreram eventos adversos", explicando algumas abordagens estruturadas para lidar com o paciente e seus familiares após complicações indesejadas decorrentes de um procedimento médico.
"É fundamental que os pediatras estejam aptos a estabelecer na prática clínica uma comunicação objetiva, estruturada a partir um método, assim como aquela utilizada em situações de final de vida. Alguns estudos internacionais apontam que os pacientes já reconhecem as habilidades em comunicação como tão importantes quanto as competências técnicas em medicina", alertou também o médico.
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