Pela terceira vez a cidade de Fortaleza (CE) recebe uma edição do Congresso Brasileiro de Pediatria (CBP). A primeira, ocorrida em 1985, foi um sucesso de público e abriu oportunidades para a melhoria no atendimento às crianças e adolescentes com a instalação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Estado. Quem conta esse e outros detalhes é a dra. Anamaria Cavalcante e Silva, presidente do 38º Congresso Brasileiro de Pediatria, que nesta edição, está de volta à capital do Estado do Ceará.
Nesta entrevista ao SBP Notícias, dra. Anamaria fala das atuais dificuldades enfrentadas pelos pediatras que atuam no setor público de saúde e dos problemas trazidos pelas novas tecnologias no cuidado infantil. Ela também aponta as perspectivas futuras sobre o trabalho dos profissionais que atuam na especialidade e de que forma o Brasil precisa investir a fim de garantir um futuro promissor às crianças e adolescentes brasileiros.
SBP Notícias – Qual a importância para o Ceará em receber o 38º Congresso Brasileiro de Pediatria?
Dra. Anamaria Cavalcante – O Ceará recebe pela terceira vez o Congresso Brasileiro de Pediatria. Em 1985, eu tive a honra de presidir o Congresso em que nós discutimos as agressões físicas e psicossociais na infância. Na época, não tínhamos um Centro de Eventos à altura e o Congresso foi realizado em parceria com a Universidade de Fortaleza (Unifor). Na ocasião, esperávamos receber cerca de 2.500 congressistas e tivemos que nos adaptar, pois esse número ultrapassou mais de 4 mil pediatras. Esse Congresso significou uma mudança de paradigma para a Criança do Ceará porquanto a partir dele foi possível um encontro com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que culminou com a instalação do Unicef no Estado. Tivemos aqui os piores índices de mortalidade infantil e de cobertura vacinal e esse grupo de pediatras que trabalhou no CBP, em 1985, sedimentou um plano de governo. Isso fez com que o nosso Estado tivesse um destaque na saúde da criança em todo o País e recebêssemos um prêmio do Unicef. Anos depois, temos outra agenda que nos aflige: há a violência contra a criança e o adolescente; saímos de um quadro de desnutrição e entramos num outro de obesidade infantil. Ou seja, esse 38º CBP traz não só para o Ceará, mas para o Nordeste e País, a oportunidade de discutir os principais problemas atuais que afligem a saúde das crianças e dos adolescentes brasileiros.
SBP Notícias –O 38º CBP, nesse momento de tantas dificuldades enfrentadas pelo Brasil e com tantas questões que afetam a infância e a adolescência, pode ser entendido como um marco no enfrentamento desses problemas?
Dra. Anamaria Cavalcante – Na medida em que nós vamos discutir as temáticas relativas à violência; ao abandono à criança que muitas é vezes presencial, pois dentro de casa as crianças não contam com os mesmos afetos e cuidados de gerações passadas – já que as televisões, os celulares e os tablets estão substituindo o colo e o carinho das famílias –, esperamos debater essas questões de forma veemente e mostrar às famílias brasileiras que ou cuidamos das nossas crianças na primeira infância ou estaremos realmente fadados a ter um Brasil sem perspectiva, onde o homicídio, o suicídio e a violência continuarão a afetar os lares nas diferentes classes sociais.
SBP Notícias – O que o congressista encontrará nessa edição do CBP que mostra uma nova abordagem por parte da SBP?
Dra. Anamaria Cavalcante – O que queremos insistentemente mostrar nesse Congresso é no sentido de aumentar a autoestima dos pediatras. Recentemente, estive em Brasília participando da discussão da Lei do Desenvolvimento, que está junto com o Programa Criança Feliz, o que tem levantado polêmica e vem recendo críticas de pessoas contrárias ao atual governo. Essa lei tem surgido com o foco de tornar obrigatório que toda criança tenha o direito de ser examinada por um pediatra e que possa ter um diagnóstico do seu desenvolvimento, monitoramento e acompanhamento. Esse é um tema polêmico, que certamente virá à tona no CBP, porque de repente está surgindo uma nova especialidade ou subespecialidade, que é o pediatra do Desenvolvimento. Ressalte-se que grandes economistas internacionais ganhadores do Prêmio Nobel mostram que o Brasil deve investir nessa fase do desenvolvimento na vida das pessoas, que são os seis primeiros anos definitivos. Sem isso, não teremos uma sociedade saudável, com um cidadão capaz de produzir para o seu País.
SBP Notícias – Diante de uma programação tão extensa, rica e bem trabalhada, o que o pediatra que vier a Fortaleza não deve deixar de fazer nesse 38º CBP?
Dra. Anamaria Cavalcante – Os pediatras não devem perder a programação científica do evento e bem com o conjunto de atividades socioculturais em Fortaleza. A organização já me disse que nunca teve um evento com tantas inscrições de famílias inteiras para participar. Assim, para os adultos, já na segunda-feira (9), a cidade tem atrações culturais e musicais imperdíveis, no Bar do Pirata. Para as crianças, temos algumas opções de brincadeiras, como o Beach Park, que é conhecido internacionalmente; museus; o Parque Ecológico do Cocó, que fica ao lado do Centro de Eventos do Ceará; as praias da cidade e do litoral oeste e leste do Estado, como Canoa Quebrada e Jericoacoara, respectivamente. Temos nas barracas da Praia do Futuro as ostras e os caranguejos, principalmente nas noites de quintas-feiras, mas também dos sábados e domingos; nossas lagostas, camarão, carne de sol, enfim, aqui no Nordeste possuímos um cardápio imperdível.
SBP Notícias – Qual mensagem a senhora deixa aos congressistas?
Dra. Anamaria Cavalcante – Apesar dessa absoluta falta de ética; dessa dificuldade de se trabalhar em hospital público e cuidar da criança nos ambulatórios das redes municipal e estadual de saúde; de vermos recursos não serem aplicados em saúde pública, escoando pela corrupção desenfreada que assola o nosso País, peço aos pediatras que acreditem. Vale a pena lutar por dias melhores que estão por vir. Acho que o Brasil vai ser passado a limpo e nós somos um País do encontro de pessoas do bem, que não desistem e acreditam ser possível mudar o paradigma de vida das crianças. Certamente esse Congresso trará essa proposta. Além disso, sempre digo que não é nenhum sacrifício vir à Fortaleza, uma cidade acolhedora, com um clima ameno. É considerada a terra do sol, dos bons ventos, com praias de águas quentes e, certamente, os pediatras cearenses estão de braços abertos para receber , de Norte a Sul do Brasil, os nossos colegas. É importante lembrar ainda que neste mês comemoramos o Outubro Rosa e a cidade está belíssima, com todos os departamentos públicos e alguns privados rosados em prol da ação de prevenção e combate ao câncer de mama.
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