Viva a consciência do povo brasileiro!

DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, representante da SBP no Global PediatricEducation Consortium ([email protected]) Dia 17 de junho de 2013. Um marco grandioso. Nova data histórica para a nação brasileira. É o despertar da consciência coletiva que percorre as artérias das cidades no admirável ritmo de um …

DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR

Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria,
representante da SBP no Global PediatricEducation Consortium ([email protected])

Dia 17 de junho de 2013. Um marco grandioso. Nova data histórica para a nação brasileira. É o despertar da consciência coletiva que percorre as artérias das cidades no admirável ritmo de um povo que não abre mão do protagonismo verdadeiro, inspirado e comprometido com um melhor destino para o país.

Brota da alma nacional o fervor autêntico, espontâneo, coerente, natural, jovem, bonito, alegre, contagiante, pacífico, duro e terno. São as cores vivificantes que reluzem no seio da cidadania em construção. Os raios candentes de um sol que não pode ser ofuscado. O pulsar encantador de uma energia humana pura, intensa, renovada, ansiosa pelo renascer de uma vida digna para todos, cheia dos mais ricos temperos sociais que a humanidade identifica com clareza.

A nova geração de brasileiros demonstra que o fio da meada estruturante da nacionalidade não foi perdido. Atualiza bandeiras, recicla estratégias, fertiliza sementes novas no solo pátrio, cuja riqueza de valores éticos, morais e culturais sobrepõe-se a interesses menores que só querem a sociedade na rota do atraso, na hegemonia da mediocridade.

A mobilização radiosa que a juventude logrou organizar em grande número de cidades, sem contratar empresas, sem patrocínios empresariais, sem trios elétricos, sem megashows encomendados, sem tribunos profissionais, dá mostras de um poder impressionante que se configura latente no âmago da substância mental das pessoas.

Multidões inundaram praças, lotaram avenidas, encheram ruas, avançaram afinadas pela sensatez e serenidade que externam a beleza e a sabedoria da mais autêntica aquarela do Brasil, não desenhada a quatro mãos, mas digitada por milhões de seres sensíveis, arrebatados pelo fulgurante momento, tendo por fundo musical a melodia genuína das vozes que entoam refrões conscientes e engajados.

Nada mais louvável e contundente. Nada mais engrandecedor. Contingentes significativos de participantes de outras idades foram atraídos pelo esplendor do movimento, fortalecendo, com incontida felicidade, o virtuoso desabrochar da consciência de nosso povo.

Por mais que se tente desmerecer um gesto de tamanha dimensão popular, não se conseguirá, doravante, prosseguir na lógica da propaganda enganosa e ilusionista por meio da qual se subestima a grandeza civil que enobrece as entranhas da nossa gente. Já dizia Abrahan Lincoln: “É possível enganar pouca gente por muito tempo; é possível enganar muita gente por pouco tempo; mas é impossível enganar todo mundo o tempo todo”.

É hora de ocupantes de cargos públicos refletirem bem distantes de manobras partidárias e do calculismo eleitoreiro que aprofunda o fosso a separá-los da consciência coletiva, a instância do pensamento nacional nascido da convergência de valores que não convivem com práticas políticas desqualificadas.

Vultosa lucidez unifica os clamores e protestos. Honra a estirpe brasileira. Retrata a maturidade crescente do espírito pátrio capaz de animar a marcha rumo às conquistas inegociáveis para a cidadania. Nas faixas, cartazes, cantigas e arroubos eloquentes dos manifestantes, emergem expectativas de transformações que cumpre desencadear, com primazia, nas áreas de educação, saúde e mobilidade urbana, a serem radicalmente modificadas pelo investimento em qualidade, sem o qual não se pode falar na garantia dos direitos dos cidadãos.

Se foi possível gastar enormes montantes de recursos públicos para a qualidade na construção dos estádios da Copa, por que não para o bem-estar físico, mental e social das pessoas; por que não para escolas de alto padrão e uma carreira de magistério valorizada, à altura dos direitos dos estudantes; por que não para o transporte público, cuja degradante precariedade humilha os usuários; por que não para cuidar da infância como prioridade absoluta?

A encruzilhada está posta. As mudanças requeridas não podem ser proteladas. A multidão consciente aumenta em volume, ousadia e respeitabilidade. Não se pode confrontá-la. Toda e qualquer ordem econômica e social que deva ser mantida pela repressão é modelo a ser removido da trajetória evolutiva da espécie humana.

A brasilidade está orgulhosamente revigorada. O histórico movimento de junho de 2013 já atinge a escala de referência internacional. Ultrapassa fronteiras. Ganha proporção global. Seduz apoiadores mundo afora pelo primoroso compromisso com o cunho pacífico e civilizado da mobilização, pela nitidez do protesto, pelo teor inquestionável e progressista das reivindicações. Viva nossa consciência coletiva!