Caros colegas,
A mulher tem percorrido um longo caminho para ocupar seu merecido espaço na sociedade. É um marco nessa trajetória a criação do Dia Internacional da Mulher, em 1911, dedicando-se o Dia 8 de Março à reflexão sobre os avanços na defesa dos seus direitos e os obstáculos que devem ser superados para que eles sejam exercidos totalmente.
Em pleno século 21, infelizmente, ainda há muito a ser feito. Ao contrário do que tanto se sonhava, em décadas passadas, a relação entre homens e mulheres ainda é marcada pela desigualdade de oportunidades, a discriminação de gênero, a violência gratuita – que não raras vezes resulta em crimes brutais – e o silêncio ensurdecedor com respeito desses abusos.
Por isso, hoje queremos falar de empoderamento, numa campanha promovida pela SBP como homenagem a Milena Gottardi, pediatra e mãe capixaba, brutalmente assassinada em 2017.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) quer lembrar às mulheres e aos homens, inclusive aos pediatras de ambos os sexos, que os tempos mudaram e, por isso, é impossível conviver numa realidade onde os iguais são tratados como desiguais.
Alguns números dão a dimensão desse problema. No mundo, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que dos 774 milhões de adultos analfabetos no mundo, 64% são mulheres. No Brasil, os salários pagos às mulheres são, em média, 25% menores do que os dos homens, conforme mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Assim, com menos educação e renda, a população feminina tem sido relegada a segundo plano, na contramão de evidências de Países que demonstram que a promoção dos direitos das mulheres acumula enormes benefícios. Além de reduzirem suas taxas de pobreza, essas nações apresentam crescimento econômico vigoroso e menos corrupção.
Esses resultados, que se contrapõem às estatísticas negativas, sinalizam a importância do empoderamento da mulher. Para tanto, é preciso que os homens apoiem essa iniciativa, entendendo que ela não é uma ameaça, mas, sim, uma quebra de amarras históricas que têm impedido o desenvolvimento dos povos, de modo justo e solidário.
Portanto, ciente da necessidade de fazer avançar essa grande meta, a SBP defende que todos procurem observar na sua rotina o cumprimento de Princípios de Empoderamento das Mulheres, propostos pela ONU, em todos os ambientes. Deste modo, queremos que os brasileiros busquem:
Sabemos que as mudanças de comportamentos e de posturas históricas não são fáceis e exigem esforço coletivo para serem alcançadas. Mas o fundamental é ter o engajamento de todos e dar o primeiro passo: assumir a existência desse problema e agir, de modo organizado, para seu enfrentamento e prevenção. Assim, o passo mais importante para o empoderamento é a informação.
Aos poucos, os resultados virão. Com mulheres empoderadas, veremos surgir uma Nação mais forte, mais rica, mais ética, mais justa, mais igual. Em meio a esse cenário, nós, pediatras - homens e mulheres com função essencial no desenvolvimento saudável das futuras gerações - temos muito a contribuir.
Pela confiança e a proximidade com as famílias, os pediatras têm um papel fundamental: podem influenciar atitudes, esclarecer dúvidas, estimular gestos e alertar contra os abusos. No contato com os pacientes, podem ajudar na formação de uma nova consciência: livre de preconceitos e de visões deturpadas, estimulando que os jovens e adultos de amanhã se comportem da forma adequada, com relação às mulheres e ao convívio em sociedade. Enfim, podem ser exemplos para as meninas e as adolescentes.
Meu convite é simples e direto.
Esse é o caminho para a construção de uma realidade diferente: sem violência, sem desigualdade, com diálogo, com solidariedade.
Como já disse, enquanto cidadãos e pediatras, podemos ajudar nessa caminhada, porque sabemos que juntos fazemos não apenas uma Pediatra melhor, mas, principalmente, um mundo melhor.
Forte abraço,
Luciana Rodrigues Silva
Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)