Tirando dúvidas: leia respostas de especialistas
Os especialistas do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP fizeram um compilado das dúvidas frequentes sobre amamentação. Os temas são os mais diversos e falam sobre a tatuagem em lactantes, o armazenamento do leite materno, o consumo de bebidas alcoólicas pelas gestantes, entre outros. Veja as respostas.
Quais os riscos e os mitos sobre mulheres gestantes ou lactantes fazerem tatuagens?
Dra. Graciete Oliveira Vieira – A tatuagem é uma prática cada vez mais comum em nosso meio. Não existem evidências científicas até o momento que comprovem a segurança da tatuagem durante a amamentação. Existe uma preocupação teórica de que a mulher que se submete a uma tatuagem durante a amamentação possa transmitir a seu filho pigmentos de tinta ou infecção através do leite materno. Uma tatuagem sobre a aréola e o mamilo pode levar ao risco de dermatite local e obstrução dos ductos terminais presentes no mamilo. As opiniões parecem convergir para que a mulher que está amamentando evite a prática de tatuagem, uma vez que ainda não existem trabalhos científicos disponíveis comprovando a sua segurança.
Referências:
1. LactMed (TOXNET) – acessado em 7 de junho de 2017.
2. BRASIL. Ministério da Saúde. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias, 2010.
No caso das mamães que voltam ao trabalho e continuam amamentando qual a melhor forma de congelar o leite materno?
Dr. Roberto Mário Silveira Issler – Após a volta ao trabalho a mãe deve ser informada e estimulada a retirar seu leite para oferecer ao bebê na sua ausência e para manter a produção de leite. O leite quando usado fresco pode ser armazenado em geladeira por até 12h e no congelador (-18ºC) até 15 dias.
Referências:
1. Cartilha para a mãe trabalhadora que amamenta; Ministério da Saúde
2. Flaherman VJ, Lee HC. "Breastfeeding" by feeding expressed mother's milk.
A amamentação pode ajudar a aliviar as dores do nascimento dos dentinhos? Por que isso acontece, qual é o mecanismo que alivia?
Dra. Vilneide Braga Serva – A amamentação realmente pode aliviar o desconforto do nascimento dos dentinhos. Isso se dá porque a ato que mais conforta a criança recém-nascida e lactente é a amamentação. Durante o ato de amamentar o bebê se aninha no colo da mãe, se estrutura, se acalma, ouve os seus batimentos cardíacos que são únicos, sente o seu cheiro, sente prazer (pois, encontra-se na fase oral de Freud), e, é acolhido e confortado. Além disso, o leite materno contém endorfinas, um neurotransmissor químico que auxilia no alívio da dor. Isso tudo alivia os sintomas do nascimento dos dentes.
Referências:
1. Modarres M, Jazayerirezi A. Breastfeeding and pain relief in full-term neonates during immunization injections: a clinical randomized trial. Anesthesiology. 2013; 13(22): 1-6.
2. Riordan J. Biological Specificity of Breastmilk. In: Wambach K, Riordan J (editors). Breastfeeding and Human Lactation. 5th Edition. Burlington: Jones and Bartlett Learning, 2016:121-170.
3. Zanardo V, Nicolussi S, Carlo G et al. Beta endorphin concentration in human milk. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr. 2001; 33:160-164.
O consumo de vinho pelas lactantes pode afetar na qualidade do leite materno?
Dra. Graciete Oliveira Vieira – O álcool consumido pela mãe passa (pequenas quantidades) para o leite materno. A ingestão do conteúdo presente em uma lata de cerveja (350ml) pode reduzir em até 23% a ingestão de leite materno pela criança. Além disso, há relatos de alteração do odor e do sabor do leite materno após uso de bebidas alcoólicas, podendo levar à recusa do leite pela criança. Sobre o vinho, se a mãe consumir duas taças de vinho tinto (30-40g de álcool) pode afetar a fome e o sono dos bebês nas primeiras 4 horas e se o uso for frequente pode levar a alterações de seu desenvolvimento. Portanto, o uso do álcool pela nutriz deve ser desaconselhado e, caso utilizado, o consumo deve ser esporádico e em doses baixas.
Referências:
1. Mennella JA. Regulation of milk intake after exposure to alcohol in mother’s milk. Alcohol Clin Exp Res 2001; 25:590-593.
2. Mennella JA, Beauchamp GK. The transfer of alcohol to human milk. Effects on flavor and the infant's behavior. N Engl J Med, 1991; 325(14):981-5.
3. American Academy of Pediatrics Committee on Drugs. Transfer of drugs and other chemicals into human milk. pediatrics. 2001;108:776-789.
O que pode causar a presença de sangue no leite materno?
Dra. Vilneide Braga Serva – A causa mais comum da presença de sangue no leite humano é o trauma mamilar. Na maioria das vezes é ocasionado por um mau posicionamento e má pega areolar, causando fissuras. Se não prevenido, tratado precocemente e adequadamente pode levar ao desmame precoce. Outra causa da presença de sangue no leite humano é o provocado pelo rompimento de capilares devido ao aumento da pressão osmótica dentro dos alvéolos na fase inicial da apojadura. Presente nas primeiras 48 horas do pós-parto, é autolimitado, melhorando com a ordenha das mamas antes da mamada, sendo mais encontrado em primíparas adolescentes e mulheres acima de 35 anos de idade.
Referências:
1. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Banco de Leite Humano: Funcionamento, Prevenção e Controle de Risco. Brasília: Anvisa, 2008:116-117.
2. Almeida JAG, Novak FR. Banco de Leite Humano. In: Rego JD. (ed.). Aleitamento Materno. 2ª Ed., São Paulo: Atheneu, 2006: 390-391.
Como funciona o processo para doação de leite? Qual a importância isso?
Dr. Roberto Mário Silveira Issler – É muito importante informar a todas as mães que amamentam sobre a possibilidade de doação de leite materno para uso, especialmente, em prematuros internados. Existem bancos de leite em muitos hospitais junto à Unidade de Terapia Intensiva. Esses bancos de leite servem tanto para a mãe retirar o leite para dar para ao seu bebê quando ele ainda não tiver condições de mamar diretamente no peito como para doadoras externas.
Referências:
1. Rede Brasileira de Bancos de leite; informações simples e detalhadas: http://www.redeblh.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=360
2. Underwood MA. Human milk for the premature infant. Pediatr Clin North Am 2013;60(1):189-207 (download livre).