Informativo da
Sociedade Brasileira de Pediatria
nº 19
Agosto de 2013
Ca r os Ami gos
A recente iniciativa da presidência da Repú-
blica, que vetou a essência do Projeto de Lei
268/2002, demonstra enorme atraso do País.
A regulamentação do exercício da medicina
tramitou por 12 anos no Congresso Nacional,
passou por inúmeras audiências públicas, in-
corporou várias mudanças. Ao final, todo esse
longo processo de debate foi sumariamente
descartado. Em todos os países do mundo, o
diagnóstico de doença e a prescrição terapêu-
tica são privativos do médico. O veto é uma
imprudência que deixa vulnerável a maioria da
população, aquela que é atendida pelo SUS.
É evidente que os gestores continuarão a recor-
rer a bons médicos. Enquanto isso, deixam aos
pobres o acesso difícil a um sistema precário
de atendimento. A decisão soma-se a outras
arbitrariedades, representadas pela Medida
Provisória 621/13, que autoriza a importação de
médicos estrangeiros sem o Revalida e institui o
serviço civil obrigatório para os graduandos de
medicina. Importante salientar também que as
propostas da SBP para a melhoria da qualifica-
ção dos pediatras não vêm encontrando eco no
Ministério da Saúde há muitos anos.
Diante do desrespeito à medicina, do descaso
particularmente com as crianças e adolescentes
que, em processo de crescimento e desenvolvi-
mento, muito necessitam de atenção especiali-
zada, a SBP informa que, este ano, o movimento
que realiza a partir da SMAM terá início em
evento diferente do governamental. Historica-
mente envolvida no trabalho de divulgar os be-
nefícios dessa prática natural, criadora da “cam-
panha da madrinha”, a Sociedade continua sua
incansável luta. Em 2013, lançaremos o Manual
de Aleitamento Materno, destinado a profissio-
nais da saúde. Faremos isso em conjunto com a
Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de
Janeiro, no dia 04 de agosto, no Museu da
República - Palácio do Catete. Lá estaremos,
sempre “perto das mães”, junto com as crianças.
Eduardo da Silva Vaz
Presidente da SBP
Luciano Borges Santiago
Presidente do Departamento Científico
de Aleitamento Materno da SBP
Alzira Silveira
é pediatra, mãe de José Antô-
nio, hoje com quatro anos. Moradora de São
Gotardo, cidade de 40 mil habitantes locali-
zada a 250 Km da capital mineira, trabalha
como prestadora de serviço em ambulatório
dedicado a ajudar mães com dificuldades em
amamentação, faz plantões em hospital pú-
blico e pós-graduação em Medicina do Tráfe-
go em Belo Horizonte. Veja seu depoimento:
“Tive uma gravidez tranquila e pensava que,
como conhecia a teoria, daria conta de tudo,
sem problemas. Fiz mastopexia, tenho próte-
se mamária, isso me trazia preocupação. Mas
meu filho nasceu de parto normal e mamou
logo no primeiro instante. No entanto, nem
tudo foi fácil. Ao contrário. Voltei ao trabalho
com apenas 12 dias. Meu bebê ganhava pou-
co peso, ficava irritado, chorava muito, estava
com uma
pega
inadequada e consequente-
mente a produção de leite era baixa. Me senti
insegura. Sabia o que estava acontecendo,
mas precisei de apoio, de quem me ajudasse
a enxergar, dissesse a coisa certa. Procurei a
ajuda de colegas que também atuam com
amamentação em várias áreas - pediatria, psi-
cologia, fonoaudiologia, enfermagem. Decidi
também que, naquele momento, pararia de
trabalhar. Iniciei a técnica da relactação. Foi
um trabalho árduo. Ordenhava, esterilizava o
material, fazia exercícios de fonoaudiologia,
usava suplementador, sempre respeitando as
posições em que o bebê ficasse bem alerta.
Tive apoio também da minha mãe Claudete
e do meu marido José Antônio. Muitos foram
os que me pressionaram negativamente.
Mas nunca dei outro leite que não fosse
o meu, nenhuma fórmula, nem chupeta.
Meu filho ainda mama, de vez em quando.
Até completar quatro anos, era mais fre-
quente. A amamentação prolongada também
sofre preconceito, e vejo que é difícil para as
mães, por causa da ignorância, da interferên-
cia dos que não conhecem o assunto. Desde
os seis meses José Antônio também come
muito bem outros alimentos saudáveis. Sem-
pre tive preocupação de que a amamentação
não atrapalhasse o sono nem a alimentação.
O desmame tem sido natural, decisão dele,
que foi diminuindo as mamadas aos poucos.
José Antônio é muito saudável, inteligente,
carinhoso, brinca, adora os amigos, é inde-
pendente. Viajo sem qualquer problema, ele
fica muito bem. Interessante que hoje, com
a vivência da maternidade, percebo que me
tornei outra pediatra. Adoro o que faço.
Para o dr. Luciano Borges Santiago, presi-
dente do Departamento de Aleitamento
Materno da SBP, o “aconselhamento”, tema
deste ano na Semana Mundial da Amamen-
tação (SMAM), é exatamente esse “apoio
mais próximo” que a colega Alzira Silveira
recebeu. Por isso, a partir da escolha de
“Breastfeeding Support: Close to Mothers”
pela Aliança Mundial para Ação em Aleita-
mento Materno (Waba, a sigla em inglês),
o material da campanha tem estampada a
mensagem: “Tão importante quanto ama-
mentar seu bebê é ter alguém que escute
você. Conte com um profissional de saúde”!
Arquivo pessoal
Dra.Alzira Silveira e José Antônio
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