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Conselho Editorial
Eduardo da Silva Vaz (presidente da SBP)
e Luciano Borges Santiago
(Departamento Científico de Aleitamento
Materno).
Departamento Científico
de Aleitamento Materno da SBP
Luciano Borges Santiago (presidente / MG)
Silvana Salgado Nader (Secretária/RS)
Conselho
Maria Beatriz Reinert do Nascimento (SC)
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Informativo Semestral da Sociedade
Brasileira de Pediatria,
filiada à Associação Médica Brasileira
Entrevista
Muitas vantagens para a vida inteira
A pediatra Keiko Teruya, de Santos e da SBP, integra o Comitê Nacional de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde e atua em consultório. Leia, a seguir.
Dra. Keiko, por que a amamentação
representa um ganho para toda a vida,
da infância à maturidade?
Hoje sabemos que a introdução de proteí-
na estranha ao organismo do ser humano,
heteróloga ao leite materno, a Beta-lacto-
globulina, agride os órgãos, é danosa ao ser
humano. O leite materno é considerado a
maior prevenção para algumas das doenças
que mais matam a nossa espécie, como as
do coração, a asma, a obesidade, diabetes...
Qual a relação com a prevenção do
excesso de peso e da obesidade?
Quando uma criança suga o peito, controla
a saciedade pela sucção, sorve a quantidade
que aguenta, pois o estômago de um recém-
-nascido retém mais ou menos de 10 a 15ml
de leite e, como demora para sugar, faz um
autocontrole , mantém um volume constan-
te. Já com a mamadeira, o leite cai na boca
do bebê. Como o estômago é um órgão
musculoso, vai se dilatando e passando a
exigir mais, não há o controle. E é ainda pior
quando uma mulher pobre, para que o leite
renda mais, engrossa com outros produtos
e adiciona açúcar. O fígado de uma criança
não metaboliza bem o amido de milho até os
quatro meses, as mães não sabem o malefí-
cio que isso traz! O amido é açúcar, hidrato
de carbono e, junto com a gordura do leite
artificial, faz a criança ficar gorda, com des-
nutrição de proteínas.
Como a sra. começou a trabalhar com
amamentação?
Quando me formei, há quase 50 anos, tí-
nhamos, em Santos, um ambulatório onde,
durante muito tempo, atendíamos cerca de
60 crianças por dia. Nunca vi um bebê que
estava em aleitamento materno chorar. Acho
que é porque, quando é amamentada, a
criança sente o conforto, o aconchego, a se-
gurança, aquele olhar da mãe e isso faz com
que fique mais calma. Além disso, um dia fiz
um levantamento. De duas mil crianças inter-
nadas em um hospital abaixo de dois anos,
apenas 27 eram amamentadas. Mas o impor-
tante é que notei que essas nunca mais eram
internadas e, naquela época, as mães não
podiam acompanhar os filhos, a internação
era um sofrimento para os dois. Vivi também
o “auge da mamadeira”, todos nós já saímos
da maternidade com uma lata de leite em
pó e era muito grande o número de crianças
que adoeciam. Tudo isso me fez ver como é
importante o aleitamento materno já naquela
época. Estou cada vez mais convencida.
Este ano, a Waba quer discutir os Objeti-
vos do Milênio, da ONU, que devem ser
atingidos até 2015. A pobreza extrema e
a fome, cuja erradicação estão no primei-
ro, têm diminuído no Brasil. Com mais
amamentação pode ficar melhor?
Sim, porque pelo menos até dois anos ou
mais a criança fica protegida. São 250 fato-
res bioativos comprovados. Por exemplo, a
Imunoglobulina A Secretora “atapeta” todo
o aparelho digestivo e também o respiratório,
impedindo infecções no organismo da criança.
O leite humano é uma substância viva. Possui
lactobacilos vivos, as hemácias e os leucócitos.
Não é inerte, como o leite de vaca e o de lata.
É diferente pelo teor protéico que contém e
pela ausência da proteína estranha. E há fa-
tores de crescimento, as gorduras adequadas.
E quanto à “fome oculta”, à carência de
ferro, de vitamina A?
Isso ainda vemos bastante. Mesmo o ferro e
outros micronutrientes, como zinco e magné-
sio, a gente precisa acrescentar que quando o
bebê é amamentado até seis meses, a relação
cálcio e fósforo é tão perfeita no leite humano
que as crianças dificilmente têm raquitismo e
a anemia ocorre só depois, quando começa
com a alimentação complementar. Mas até aí
então o leite humano é o alimento perfeito.
A mortalidade materna no Brasil ainda é
alta. Por quê?
Não há relação com o aleitamento materno.
Estão entre as razões o grande número de
cesarianas, o pré-natal mal feito, a tensão da
mulher no parto, a procura por local onde
possa dar à luz, muitas vezes com grande
demora para o atendimento. A mulher que
abortou uma vez, por exemplo, pode ter
frouxidão na região do útero, outros abortos e
aí até risco de morte. A mortalidade neonatal,
embora também ainda alta, diminuiu muito
– 55,8% de 1990 até 2012. Assim como na
queda da mortalidade infantil pós-natal tem aí
uma contribuição importante do aleitamento
materno, que protege contra infecções, como
pneumonias e diarreias, as principais respon-
sáveis (37% e 25% dos casos).
Como a amamentação melhora a saúde
materna?
Vários trabalhos mostram que protege muito
a saúde da mulher. Dentre outras vantagens,
reduz o risco de câncer de mama, de ovário e
também a osteoporose.
Fazendo um balanço, quais são nossas
principais lacunas?
Na pediatria precisamos de mais formação
em puericultura, que é saber suprir as neces-
sidades do bebê e da mãe. Por exemplo, no
Minuto de Ouro, deve ser feito o necessário.
Se a criança fica roxa por causa do frio, a me-
lhor incubadora é o afago da mãe. O primeiro
contato tem que ser esse, proporcionando o
vínculo, o olhar nos olhos do bebê. Depois se
mede, pesa etc.
Como estão os jovens pais em relação à
amamentação?
As adolescentes bem orientadas são ótimas
mães, ficam seguras. Os meninos também
estão entendendo mais, temos trabalhado
muito nas escolas, na Semana Mundial.
Manual de Aleitamento Materno
Organizado pelo dr. Luciano Borges San-
tiago, presidente do Departamento Cien-
tífico da área na Sociedade e com diver-
sos autores, o “Manual de Aleitamento
Materno” da SBP (Editora Manole, 2013)
é dirigido aos profissionais da saúde.
Dentre os assuntos, aborda a “anatomia
e fisiologia da lactação” e “como oferecer
complementos ou suplementos ao bebê”.
Pode ser encontrado nas boas livrarias do
país e no site da editora
.
br), com entrada também pelo portal da SBP
(R$59 e R$47 o e-book. Associados da SBP
20% de desconto).