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Não existe ainda a cultura de levar o
adolescente ao pediatra de forma pre-
ventiva, rotineira, sistemática, para o
acompanhamento de seu crescimento e
desenvolvimento. Mas é exatamente isso
que a Sociedade quer mudar:
– Fizemos uma parceria com o Núcleo
de Estudos da Saúde do Adolescente
(NESA), da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ), com objetivo de
unir esforços para a promoção da saúde
de uma parcela de mais de 34 milhões
de jovens no Brasil. Queremos garantir
aos adolescentes o atendimento de pue-
ricultura que tradicionalmente as crianças já recebem de
seu pediatra – assinala o dr. Eduardo Vaz.
– O conceito é antigo, a intenção é consolidá-lo, desen-
volver uma linha de trabalho de cuidados com a saúde nessa
faixa etária. É preciso que o Sistema de Saúde realize uma
procura ativa do adolescente, antes que os problemas e do-
enças ocorram. Evitar os agravos é nossa meta e, para isso,
estamos consolidando diretrizes específicas, organizando
normas de condutas – diz o diretor do NESA, José Augusto
Messias.
– A puericultura já é tradicional para as crianças pe-
quenas e todos entendem o que é. A ideia é trazê-la para a
promoção do acompanhamento preventivo do adolescente.
É isso que importa, muito mais do que o nome – diz a gi-
necologista Isabel Bouzas, do NESA, que propõe o termo
“Pubericultura” – a partir do latim “pubes” (aquele que
tem “desenvolvimento pubiano”, “jovem”), significando
“cultivar o jovem”. A nomenclatura não agrada a todos, mas
o conceito sim, foi “consenso” no recente debate ocorrido
no Congresso Brasileiro de Adolescência, em novembro, em
Florianópolis (SC), informa.
Preparação para o atendimento
Atualmente, “a importância da adolescência é até reco-
nhecida pelos vários setores da sociedade, pelo Governo.
Mas a dificuldade é termos um real investimento na faixa
etária, ações específicas, uma assistência eficaz, treinamento
adequado”, ressalta a dra. Isabel. O maior problema, diz,
é no Sistema Público, onde “a sobrecarga é muito grande”.
Dra. Mariângela Barbosa também considera que, apesar
dos avanços, pois há no País serviços voltados para o aten-
dimento integral à saúde do adolescente e de suas famílias
– ela mesma atua no Programa de Atenção Multidisciplinar
ao Adolescente (Proama), do Hospital Lauro Wanderley da
Universidade Federal da Paraíba, que acaba de completar
21 anos –, a necessidade é muito maior:
– Nem os profissionais da saúde, nem os da educação,
foram preparados para o trabalho com os adolescentes. Ain-
da são poucas as faculdades que abordam o tema de forma
clara, direta e prática. Isso acaba geran-
do ansiedade na hora de ficar frente a
frente com um ser que mobiliza questões
internas também de quem os atende. O
adolescente é naturalmente inquisidor,
questionador, transgressor.
Responsabilidade do pediatra
Na medicina, a adolescência é área de
atuação da pediatria desde que a decisão
foi publicada no Diário Oficial de 29 de
abril de 2002. Está expressa no convênio
firmado entre o Conselho Federal de Me-
dicina (CFM), a Associação Médica Bra-
sileira (AMB) e a Comissão Nacional de Residência Médica
(CNRM), que instituiu a Comissão Mista de Especialidades
(CME). A resolução CFM nº1. 634/2002 referendou então
essa conquista, já anteriormente definida pela AMB.
Mas a residência em pediatria ainda não se adequou à
realidade. Por isso, a SBP vem defendendo a atualização
do conteúdo dos programas e o aumento da duração para
três anos, como ocorre nos demais países. O NESA também
partilha da posição:
– Achamos extremamente importante o aumento para três
anos. Houve toda uma evolução de conhecimentos, mas a
formação continua engessada. A pediatria, como clínica
médica de toda uma faixa etária, é muito ampla. Os servi-
ços também precisam se estruturar para as especificidades
da faixa etária, devem ter ambulatórios para o treinamento
adequado dos residentes e para o atendimento, a internação
dos adolescentes – lembra a dra. Isabel.
A consulta
Mas como exatamente pode ser feita a puericultura do
adolescente? “Do mesmo jeito que fazemos com os bebês.
As crianças pequenas não vão ao pediatra e são pesadas,
medidas, orientadas em sua dieta, no calendário vacinal, não
conversamos com os pais, cuidadores sobre tantas questões
Grupo Keystone
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