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do seu desenvolvimento? Pois é, nesta fase começam a apa-
recer novas demandas, para as quais a família também pode
não estar preparada. É natural que os gostos mudem, que o
jovem já não queria mais ir para à casa dos avós no domingo,
ou que o encontro com os primos não tenha mais o mesmo
encanto, entre tantas outras mudanças de comportamento”
- diz a dra. Mariângela.
go de Ética Médica, pode-se garantir sigilo ao paciente menor
de idade, desde que não incorra em risco de vida para ele
ou para terceiros. Isso significa que os pais ou responsáveis
somente serão informados do conteúdo das consultas, como
nas questões relacionadas à sexualidade e à prescrição
de métodos contraceptivos, com o expresso consentimen-
to do adolescente. Em todas as situações em que houver
necessidade de quebra de sigilo, o adolescente deverá ser
informado, justificando-se os motivos para essa atitude. Nas
situações consideradas de risco (p. ex: gravidez, abuso de
drogas, não adesão a tratamentos, doenças graves, suicídio)
ou quando for necessária a realização de procedimentos de
maior complexidade (biópsias e intervenções cirúrgicas),
tornam-se fundamentais a participação e/ou o consentimento
dos pais ou responsáveis.
Diálogo e aceitação
– O sigilo é uma das grandes questões da minha área.
Mas primeiro conversamos com o adolescente, depois com
os pais. Em 30 anos de trabalho com ginecologia e nessa
faixa etária, observamos que, sempre, depois de uma boa
conversa, o paciente decide ele mesmo contar aos pais as
suas questões. Nunca foi necessário que ocorresse de ma-
neira diferente – garante a dra. Isabel.
Sobre a relação de confiança e a abertura para as dife-
rentes realidades, há histórias bem emblemáticas: certa vez
um menino de uns 15 anos procurou a pediatra, querendo
“se consertar”. Chorava muito, pediu um remédio, disse
que não conseguia se interessar pelas meninas. A conversa
abordou o que na vida decidimos sobre nós mesmos e o que
somos, simplesmente, assim como as várias maneiras que
cada pessoa tem de ser feliz, as diferenças entre culturas etc.
Um ano e algumas consultas depois, o garoto já demonstrava
se aceitar, mas queria e não tinha coragem de falar sobre o
assunto com a mãe. A médica explicou que ele poderia até
levá-la ao consultório e contar em sua presença, mas que
apenas ao próprio garoto caberia fazer isso. Assim ocorreu,
em momento de muitos abraços, choro, emoção. A mãe
aceitou o filho como é.
Corpo e orientação
As modificações do corpo por vezes assustam, incomodam
os adolescentes. Dra. Mariângela dá a dica: “na primeira
consulta a gente nunca examina a genitália, apenas conversa
– a não ser que aquela seja causa da procura. Mostramos ao
adolescente o desenvolvimento puberal feito pela Classifica-
ção de Tanner e perguntamos onde acha que
está. Nem sempre a resposta confere, mas
não é isso que mais importa e sim iniciar o
assunto, explicar, tirar dúvidas, conversar,
ganhar confiança”.
Dra. Isabel lembra que “a sociedade pas-
sou por toda uma liberação sexual, mas não
A consulta com o pediatra
deve ser preventiva,
rotineira, sistemática.
O livro “Filhos adolescentes – de 10 a 20 anos de idade”,
da SBP, organizado pelos drs. Fabio Ancona Lopez e Dioclécio
Campos Jr. (Manole, 2012), reforça a importância da “visão
global da saúde” (pág. 17): “Mesmo que a queixa seja vaga
ou aparentemente banal, a consulta deve ser aproveitada para
que o médico identifique e acompanhe os diferentes aspectos
da vida do adolescente: Sintomas, alimentação, escolaridade,
atividade física, lazer, estrutura familiar, relacionamentos,
hábitos, imagem corporal e autoestima, sexualidade, projeto
de vida etc (...)”.
A consulta tem características específicas. Muda, por
exemplo a relação médico-paciente, que até a infância era
indireta, por intermédio da mãe ou acompanhante, e passa a
ser diretamente com o adolescente. É preciso explicar isso
às partes envolvidas:
– O próprio paciente pode ficar meio escondido, querendo
que a mãe responda por ele. Mas deixamos claro que aquele é
um espaço exatamente para que ele treine, aprenda a cuidar
de sua própria saúde, a ficar independente. Há questões que
devem mesmo ser respondidas pelo acompanhante, como
a história pregressa, vacinas, etc. Mas há outras, como a
própria queixa do momento, que devem ser relatadas pelo
adolescente. São necessários, portanto, dois momentos e em
um deles o médico deve atender apenas o
adolescente – enfatiza a dra. Mariângela.
Sublinhando a importância da con-
fiança, do respeito e do sigilo da consul-
ta, o livro “Filhos Adolescentes” aborda
a confidencialidade (pág. 18):
– De acordo com o artigo 103 do Códi-
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